terça-feira, 19 de julho de 2011

Volume II - Francisca Clotilde






Ouve-se o apito do trem.
Na casa do Chiquinho recrudesce o alvoroço.
A Loló radiante de alegria dá uma olhada ao espelho e colocando nos negros cabelos um botão de rosa branca chama o pai e os irmãos para irem à estação.
A mãe não sabe o que faça para que o almoço seja o melhor possível. Vai da caçarola de galinha feita de molho pardo[1] à frigideira do lombo[2] apetitoso, bate os ovos para a omelete, limpa o paliteiro, endireita os guardanapos, verifica se está tudo em ordem.
A vizinhança está igualmente alvoroçada. Todos querem bem ao rapaz e desejam abraçá-lo depois de tão longa ausência.(p. 236).

Em Manaus, Arthur e Maria da Glória passam a levar vida desregrada, passam a freqüentar os cassinos, voltando a jogar e endividar-se, tornando-se cafetão. Até que um dia Arthur voltando para o Hotel encontra um bilhete de Maria da Glória,

_ Quebrei o meu compromisso, mas como dois bicudos não se beijam trata de procurar a tua vida sob a proteção da dama de ouro, que eu vou aventurar-me nas campanhas dos valetes do amor.
_ Miserável! Bradou Arthur amarrotando o bilhete. Mas, afinal de contas aquela toutinegra podia ser-me fatal, e assim foi melhor ter batido a linda plumagem! (p. 245).

O momento da abordagem do tema “Divórcio” é marcado no episódio XXVII (p. 249), onde a autora proporciona, um diálogo entre o Coronel Pedrosa - que levara a filha e o neto para sua casa, e proibira que se pronunciasse o nome do genro, 

_ Em que pensavas, minha filha?
Ela com um sorriso desconsolado e, avaliando o que o pai sofria por causa dela, mostrou-se calma.
_ Eu nem sei mesmo em que pensava, meu pai. (p. 249).
_ Devias requerer o divórcio rompendo de uma vez os laços que te prendem àquele miserável.
_ Oh! Meu pai, não fale assim! Ele é o pai de meu filho e eu, no caráter de sua esposa, tenho o dever de socorrê-lo e de tratá-lo em casos como este em que se encontra agora.
Abandoná-lo quando ele expia os desvios de uma vida viciosa, à mingua do socorro dos homens, seria de minha parte uma ação revoltante, e eu jamais praticarei assim. (p. 250).
- É nobre e admirável o teu procedimento, mas hás de fazer um sacrifício inútil. (p. 250).

Os jornais do Amazonas, com circulação no Ceará  trazem notícias de Artur:

Baixou ontem ao Hospital de Misericórdia um moço que foi acometido de uma congestão na Hospedaria. (...) Trata-se do bacharel Artur Pedrosa Guimarães, cearense, casado com uma senhora distinta, filha de um ilustre Coronel que prestou relevantes serviços ao bem público. (p. 251).

Num milagre de resistência moral, quanto a deveres de esposa, Nazareth viaja para o Norte (acompanhada da tia), à procura de Arthur a contra gosto do pai, mas cumprindo o dever de esposa. Hospeda-se em casa de amigos do pai. Lá chegando, o Artur conheceu-a, teve mesmo um sorriso vendo-a a borda do seu leito e no dia seguinte era transportado para a casa do amigo do sogro, onde foi tratado com todo o desvelo. Passados alguns dias, Nazareth alerta ao esposo:

_ O nosso dinheiro está se esgotando, e não fica bem abusar tanto tempo da delicada hospitalidade que nos foi dispensada.
_ Dá-me com que pagar as minhas dívidas, filha, e eu estou pronto a acompanhar-te até o fim do mundo.
_ Sim as tuas dívidas serão pagas. Vou mandar comprar as passagens, pois o Vapor deve partir amanhã e pedirei ao Sr. Amorim para encarregar-se de tudo. (p. 259).
_ Vais dar-me o dinheiro de que preciso já e já, senão o escândalo será medonho e eu narrarei ao nosso obsequioso hóspede a cena passada no Hotel do Ceará contigo e o teu namorado, a quem sinto não ter ferido no coração. (p. 260).

À noite esperaram embalde o Artur. O Sr. Amorim vendo a moça enxugar as lágrimas disse-lhe:

- Minha senhora, o seu marido mata-a! Volte para o Ceará onde a esperam o amor de seu pai e o carinho de seu filho. Não é porque me pese hospedá-la, no que tenho a máxima satisfação, mas no pé em que as cousas vão, seu marido não tardará a arrastá-la ao fundo do abismo em que resvalou. (p. 260).

Após provocações de toda sorte, Nazareth volta ao Ceará. No episódio XXX, a narradora faz referência à Campanha pela Abolição,

Ao avistar as praias cearenses, alvas e graciosas, banhadas por um claro sol de julho, ao ver emergir dentre os coqueirais a cidade forte, imortalizada pelas vitórias da jangada abolicionista, ao sentir o bafejar das brisas marinhas a refrescar-lhes a fronte, ao pensar que se aproximara do lar, onde abraçaria seu pai e irmãs e onde teria a inefável ventura de beijar uma e mil vezes o filho idolatrado, a Nazareth mediu toda e extensão do seu infortúnio. (p.265).

Mais tarde o Coronel Pedrosa informado da nova infâmia praticada pelo genro (roubo), tomou-se da mais viva indignação e impôs à filha que rompesse por uma vez os grilhões que a acorrentavam àquele desgraçado,

_Concorri para o teu infortúnio fazendo com que aceitasse por marido o último dos miseráveis, mas tens um filho sobre quem se refletirá a vileza da conduta dele. É, portanto, indispensável subtrair a criança à essa infelicidade e terminar a existência de sobressaltos e torturas que levas.
Vou arranjar as cousas de modo a que te divorcies. Hei de descobrir o paradeiro do infame, e então te vendo livre pela lei desse jugo desmoralizador, poderei morrer tranquilo.
O Coronel tinha boas relações em Manaus e em diferentes pontos do interior do estado do Amazonas, então encarregou um advogado de grande nomeada de tratar da questão do divórcio de sua filha, e conseguiu o resultado que desejava, graças a pertinazes esforços. (p. 267).

Convencida pelo pai, Nazareth concorda em divorciar-se. E aí, vive um outro drama pessoal psicológico sócio-cultural que muita a abala:

Divorciada! Esta palavra fatídica vinha ao espírito de Nazaré logo pela manhã quando despertava e o sorriso do filho lhe enviava um bom dia dulficante e cheio de esperanças.
Quebrara todos os laços que a uniam ao marido, mas seu coração igualmente se despedaçara. Que terrível desenlace tivera seu casamento!
Perguntava a si mesmo no silêncio, recolhida e desolada, o que havia feito para merecer tão rude castigo, e a sua consciência de nada a exprobarva.
Repousava serena na certeza do dever cumprido. (p.270).

A saúde do coronel Pedrosa estava a cada dia mais comprometida. Uma tarde o velho chamou a Nazareth, e vendo-a entristecida, tomou-lhe as mãos e disse-lhe:

_Minha filha, eu morreria contente se te deixasse feliz, unida a um homem de bem que, avaliando a beleza de tua alma, compreendesse o valor inexcedível de tua virtude inquebrantável. Deus não o quis. Todos os meus cálculos falharam, as ilusões do meu afeto paternal, quiçá um pouco egoísta, criara para o teu futuro desfizeram-se ante a realidade acabrunhadora.
Sinto-me a dois passos do túmulo e morro tranqüilo porque sempre trilhei o caminho indicado pelo dever. Peço-te que vivas para teu filho, para seres o arrimo de tuas irmãs. Eu levo um único remorso: o de haver concorrido para a tua infelicidade. (p. 276).

E a autora encerra o capítulo com essas palavras: "O espírito dos que vão deve auxiliar-nos nos transes difíceis da vida". (p. 279).
Através do segundo regresso de Chiquinho, a narradora, mais uma vez em nota sociológica, aborda os Paroaras[3], ligados à solução do Norte,

A casa do Chiquinho está em festas...
Nem o Senhor Bispo seria recebido assim, dizia a Mariquinha...
Vêem-se doidos os paroaras quando chegam do Norte a um povoado. Chovem os pedidos, aparecem as comadres, surgem os afilhados, os mendigos invadem a casa, e supondo que os que vêm do pretenso eldorado trazem fabulosas riquezas, todos aspiram a um pequeno quinhão. (p.285-6),

A narradora, mediante o mau caráter de Artur lhe reserva um final assim:

Trazido do Norte muito doente – pelo rival Chiquinho, a cena patética de pecador a implorar perdão à mulher e a beijar o filho. Não resiste à doença, é vitimado pela tuberculose, e Nazareth guarda dois anos de luto após a morte do ex-marido.

Para Maria da Glória - a mariposa, a punição social de contrair uma enfermidade física da época: a lepra.
E finalmente, Nazareth vendo o amor devotado que Chiquinho lhe consagra, avaliando a nobreza de sua alma generosa enaltecida aos olhos dela pela conduta que teve com o Artur, proferiu o sim desejado, para finalmente o casamento como término lógico e natural da divorciada com o homem do seu primeiro amor.
Pelo exposto pode-se ver que a autora, tal como prometera no seu “Cartão de Visita”, nos conta de fato, uma história singela de duas criaturas que se amaram com pureza e as quais o destino torturou acerbadamente antes de dar-lhes a felicidade almejada.
Uma missão do Romance é propor um Mundo Novo. E isso a romancista propôs. Uma proposta que só seria acatada pela Lei brasileira setenta e cinco anos depois da publicação de A Divorciada.
Conforme o jornal O Povo, de 16 de julho de 1977, "Congresso Aprova Divórcio",

Brasília – Por 219 contra 137 votos foi aprovada, na madrugada de hoje, a Emenda Nelson Carneiro, que institui o Divórcio no Brasil.
A Emenda estabelece que o divórcio se concederá aos desquitados há mais de três anos.
Ao ser anunciado o número regimental de 212 votos, necessários para a aprovação da emenda, o plenário e as galerias explodiram numa emoção de entusiasmo, forçando o Presidente do Congresso, senador Petrônio Portela, a exigir ordem.

O ano de 1977 é também marcante na História da Literatura Brasileira, pelo fato de ter sido o ano em que pela primeira vez uma mulher tomar Posse de uma Cadeira na Academia Brasileira de Letras em nosso País. Trata-se da cearense Raquel de Queiróz, ex-aluna do Colégio Imaculada Conceição, diplomada em 1925, ex-professora da Escola Normal, de Fortaleza, nomeada em 1929; escritora de renome Nacional. Aos 04 de agosto de 1977 Raqulel de Queiróz foi eleita com 23 votos contra 15, concorrendo com o jurista Pontes de Miranda, na vaga do imortal Cândido Mota Filho[4].






A Divorciada na visão de Historiadores e Ensaístas

Os estudos sobre a natureza e a importância do nosso romance são escassos, incompletos, pois permanecem quase sempre em considerações superficiais, sem maior aprofundamento, além das injustiças que se cometem, talvez inconscientemente, em relação a nomes que foram de certa forma, desbravadores de caminhos.
Dolor Barreira


Já dizia Jorge Luis Borges que “uma leitura difere de outra menos pelo texto do que pela maneira como é lida, e que enfim um sistema de signos verbais ou icônicos é uma reserva de forma que, esperam do leitor o seu sentido”. É o que veremos a seguir.
Rodrigues de Carvalho em sua Resenha Bibliográfica, para o ano de 1902, afirma “este ano foi pouco fecundo para as letras cearenses”,

É que os intelectuais ou absorvem-se na aplicação da vida prática, ou deixam cair a pena, descrentes de seus próprios esforços, certos de que na sociedade ganha somente quem mais rebaixe o caráter, quem menos noção tenha do que seja trabalhar pela comunhão com desinteresse. De mais a mais – conclui ele – esse justo pessimismo concorre para que forneçam os bons estímulos e cedo se atrofiem as vocações promissoras[5].

Dolor Barreira em sua História da Literatura Cearense (1951:391), falando sobre o romance escrito por Francisca Clotilde reporta-se a Raimundo Magalhães (1916), que na sua costumada maneira sombria de ver as nossas coisas literárias, após observar com evidente derrotismo, que, excetuados Rodolfo Teófilo e Papi Júnior,

Não há memória de outro literato cearense que se tenha, aqui dedicado ao romance ou ao conto.
Apenas uma senhora, D. Francisca Clotilde, que tem passado grande parte de sua existência em vilas e cidades do interior, no exercício do magistério, fez uma tentativa no gênero, publicando há anos, A Divorciada, romance que a crítica recebeu silenciosamente.
A distinta patrícia, que, aliás, se tem feito notar por algumas poesias, e trabalhos em prosa, parece que desanimou com a fria recepção que lhe fizeram. Deixou repousar a pena e quando por vezes, a empenha é, em regra geral, para empregá-la em trabalhos de outra natureza[6].

O primeiro estudo encontrado sobre “A Divorciada” está em Abelardo F. Montenegro, no "Romance Cearense" (1953:111), que afirma:

‘A Cidade’ – jornal que ela colabora – da cidade de Sobral, na edição de 21/03/1903 elogia o romance, asseverando que é mais um magnífico estudo de observações e de fatos sociais, que um simples trabalho recreativo e fantasista. O mesmo jornal louva o estilo da romancista que qualifica de ligeiro, delicado, correto e atraente, inspirado no realismo puro.
Em 1909, reside ela em Aracati, O Aracaty – órgão de imprensa local – na edição de 25.03.09, diz que o romance de Clotilde ocupa-se da momentânea e debatida questão do divórcio, tão simpatizada entre nós. Rompendo todos os preconceitos, desprezando todas as conveniências sociais, procura demonstrar a necessidade do amor no casamento, do verdadeiro amor desinteressado e eterno, espontâneo e natural.

Para Montenegro, Clotilde ama as histórias singelas, as narrações trescalando o aroma das flores agrestes, os idílios inocentes. Nazareth – a personagem central, a divorciada – ainda se deleita com a leitura de Paulo e Virgínia. No romance há uma distribuição de castigos e recompensas de acordo com suas ações praticadas. O espírito vicentino de Nazareth transforma-a na primeira assistente social, na primeira samaritana a amenizar o sofrimento alheio, na romancística cearense.
Otacílio Colares, em Lembrados e Esquecidos (1977) se reporta “A Divorciada”, como um romance ousado e esquecido:

Datado de 1902. Surgido quando no Ceará, a escola realista-naturalista se encontrava no auge da preferência dos nossos ficcionistas, mais válidos e atuantes, talvez com ele, ou melhor, por certo com ele aconteceu o que antes ocorrera à Rainha do Ignoto, de Emília de Freitas, o estabelecimento de uma espécie de cinturão do gelo, um clima pior do que o de combate – o da indiferença total e mesmo criminosa, porque significou, omissão de toda a geração contemporânea da autora, determinando a quase total ignorância, por parte de várias gerações subseqüentes[7].

Caterina Oliveira em “Fortaleza: seis romances, seis visões”, faz uma análise dos romances “A Afilhada”, de Oliveira Paiva; “A Fome”, de Rodolfo Teófilo; “A Normalista”, de Adolfo Caminha; “O Simas”, de Papi Junior; “A Divorciada”, de Francisca Clotilde e “O Mississipi” de Gustavo Barroso. Sobre A Divorciada diz Caterina Oliveira (2000:113)

O divórcio, pioneiro como tema no romance cearense, somente ocorre, n’A Divorciada, em condições extremas e, ainda assim, decidido pelo pai da protagonista. Ou seja, apesar do título polêmico, trata-se de um romance conservador que não rompe com o poder patriarcal. Um romance enfim, profundamente marcado pelos cânones católicos, traduzidos também nas recompensas e castigos finais distribuídos, respectivamente aos personagens ‘bons’ e ‘maus’[8].

            Zahidé Muzart In: Cecília Cunha (1998: 179), em estudo sobre o romance feminino do século XIX, afirma que:

Se menciono no presente trabalho o romance de Francisca Clotilde é pelo tema tratado: o divórcio. O livro é de feitura muito simples, muito modesta nem se comparando com o romance de Emília Freitas e muito menos com os romances naturalistas de Délia. É um romance ingênuo que, mesmo tomando como tema uma questão candente, o divórcio, prefere apresentar uma legitima  Amélia, aos moldes patriarcais.

Numa visão totalmente contrária a ensaísta anterior Otacílio Colares (1977:64),

Possuidora de um estilo mais bem cuidado que o de Emília de Freitas, não fugiu Francisca Clotilde, como não fugiram, de resto, seus conterrâneos do realismo-naturalismo cearense, às injúrias da paisagem, na euforia do verde, quando ocorria, numa terra cuja constante mais acentuada era a seca.
Nela o comedimento até parece uma preocupação; daí os capítulos curtos, a frase geralmente não muito longa, o apelo, nos jogos dos personagens, mais para o domínio do pensamento do que para as ações de desenrolar demorado e exaustivo. E mais: importantíssimo, o uso implícito, como arma para a rapidez do entrecho, que se torna leve e até certo ponto contagiante.

Osana Costa In: Cecília Cunha (1998:230), justifica a inclusão a inclusão do romance A Divorciada em seus estudos ao fazer esta análise,

Ao trazer à tona a história de Nazareth e o endosso da ideologia patriarcal, Francisca Clotilde não deixou de mostrar, através da personagem, uma atitude ao mesmo tempo de aceitação e de recusa das normas sociais. Ao mesmo tempo em que aceita as imposições do pai, também as rejeita nas suas reflexões e questionamentos.

Nádia Gotlib, na reedição de A Divorciada (1996:62), ao analisar o romance, tem uma reação de encanto e espanto, se reporta ao tempo e ao espaço, e que a protagonista não possuindo felicidade própria vive em função do outro,

Afinal, estamos em 1902. Há dois anos atrás, 1900, Rui Barbosa votava contra a proposta divorcista de Martinho Garcez. E temos 75 anos ainda pela frente até assistirmos à aprovação do projeto divorcista - permitindo novo casamento, projeto de Nelson Carneiro, que é de 1977.
E como nestes idos de 1902 não se deve ter manipulado a moral cristã, a bem da preservação dos bons costumes burgueses!
Se no Século XIX a vida burguesa, a reger laços amorosos, já fora tão exaustivamente e talentosamente representada pela esperteza madura de um Alencar, de um Machado, esse romance de Francisca Clotilde, singelo, ingênuo, despretensioso, de produção caseira, ganha interesse justamente por isso, ou pelo que lhe falta, isto é, por uma representação absolutamente identificada com as desgraças da personagem, ou, pelo ponto de vista tradicional, por estes “defeitos técnicos” que advém desta participação subjetiva a se intrometer na narração: na maioria das vezes, indignadíssima!

Agostinha Silva, "Entre mulheres história e literatura" (2002:60), vai mais além, e descobre que através do romance “A Divorciada”,

Rasgo romântico, sem dúvida, mas revelador do modo do modo avançado de pensar da mulher cearense, naqueles tempos em que a expressão liberdade individual parecia uma inconstante no seio da sociedade feminina do Ceará. Em que pese todas as críticas, nos abre as possibilidades de uma leitura sobre a emancipação feminina, a crítica social e a imagem de homens construídas na pena feminina de Clotilde. Se o romance é conservador, mesmo acreditando que as coisas não são tão dadas assim, percebemos momentos de tensão entre as personagens. Nas falas e pensamentos de Nazareth, mesmo quando resignada à vontade do pai, existem várias passagens em que ela pesa e avalia sua condição de mulher na busca pela felicidade conjugal.

De acordo com Nelly Novaes Coelho In: Zahidé Muzart, a temática proposta por Francisca Clotilde,  

Provocou violenta polêmica entre conservadores e progressistas: a do divórcio e da liberação feminina que começara a ser divulgada no Nordeste pela obra e atuação da escritora norte-rio-grandense Nísia Floresta, entre os anos de 1832 e 1850. Tais idéias revolucionárias tiveram uma receptividade intelectual muito intensa em Fortaleza e, delas, Francisca Clotilde foi das mais entusiastas defensoras, seja por pronunciamento em conferências ou pela imprensa, seja por sua obra literária que suscitou sempre a condenação da sociedade conservadora.[9]

Almeida Fischer, no artigo "Estudos Sobre a Literatura Cearense" In: Otacílio Colares, "Lembrados e Esquecidos IV", (1979:11), diz que:

A Divorciada poderia ter conseguido melhor repercussão nos primeiros anos deste Século, mesmo quando essa literatura já se encontrava sob o signo do realismo-naturalismo, não abordasse assunto bastante ousado para o seu tempo, o da dissolu~bilidade do casamento apenas agora timidamente admitido. Francisca Clotilde, incluindo o divórcio como possibilidade de dissolução do casamento em sua trama romanesca, há mais de sessenta e cinco anos atrás, merece o título de pioneira no assunto.

Pelo exposto, confirmam-se as palavras de  Jorge Luis Borges, no início deste capítulo: “uma leitura difere de outra menos pelo texto do que pela maneira como é lida".
Ora, nem mesmo José de Alencar escapou de severas críticas, quando publicou "Iracema", em 1865,

Apesar do projeto de intenções nacionalistas, Alencar recebeu na época, crítica por haver inventado um selvagem falso, e o que é mais grave, por utilizar uma linguagem repleta de americanismo...
Por ser um homem reconhecido como correto em seus atos, não viver de favores – prática que denunciava através das personagens de seus romances, trabalhar arduamente a fim de cumprir seus projetos, não saber fazer concessões e não medir palavras arranjou inimizades com personalidades da vida pública, a exemplo do abolicionista Joaquim Nabuco, do poeta Gonçalves de Magalhães, do romancista Franklin Távora, do escritor português José Feliciano de Castilho e do próprio imperador Pedro II[10].

É justo que se registre neste estudo, o pensamento de Francisca Clotilde enquanto leitora de José de Alencar e seu ponto de vista sobre o romance "IRACEMA":

Num blandicioso estilo comparável ao canto do sabiá, na espessura da mata, em alvorecer primaveril, José de Alencar, glória da Terra cearense, idealizou o tipo gracioso dessa índia em cujo coração se acrisolavam os sentimentos fortes de uma raça selvagem e a meiguice empolgante de uma alma de donzela aprimorada ao sopro da civilização.
Livre como a corsa, ela palmilhava os sertões e mirava o rosto moreno, de traços corretos, na limpidez das águas da lagoa, cristalizadas aos esplendores do sol.
Desprendiam festivos cantares quando a aurora roseava o céu e as flores silvestres que desatavam as pétalas embalsamando os campos do Ipu ornava-lhe os cabelos opulentos e negros.
Os guerreiros mais famosos encontravam-na esquiva e ao fitarem a luz de seus olhos e o frescor de seus lábios rubros entreabrindo sorrisos álacres, pensavam que IRACEMA era talvez um gênio superior, a virgem privilegiada que  Tupã   destinara para proteger com a candidez de sua existência imaculada e descuidosa os valentes filhos dos Tabajaras.
Poema estremecido de imagens belíssimas iluminado pelas fulgurações dos astros que matizam o céu azul que se estende sobre a Pátria do grande escritor. Apresenta-nos a visão lendária no grácil abandono de repouso à sesta, nos claros da floresta, ou mais tarde errando desolada pelos ermos sertões, a repetir o nome de Moreno à variação cariciosa, na hora contemplativa da saudade, ao morrer do dia.
Imortalizada pelo gênio de Alencar, o mimoso perfil dessa lenda selvagem, vencido pelo guerreiro branco, reflete-se através dos tempos sobre as alvas praias e as risonhas dunas que orlam os "verdes mares" marcando uma nova fase à literatura indígena e mostrando em colorido vivo, brilhante, a sensibilidade, a delicadeza e os afetos de uma alma feminina expandindo-se ao calor das silvas, grande na sua dedicação, sublime no generoso desprendimento com que esquece tudo e carpe como a ave solitária às margens pungentes da ventura perdida[11].

Verdadeiro Poema em prosa cantou Francisca Clotilde sobre Iracema. Quem há-de duvidar de suas inspirações e de sua visão de Mundo?


















A Mulher na Política

Francisca Clotilde nunca hesitou em colocar sua pena a serviço das grandes causas do Brasil, e, particularmente do Ceará, sem se importar com as restrições que lhe pudessem vir dos poderosos do dia.
Stella Barbosa Araújo


O Século XIX não via com bons olhos a participação da Mulher na Política. Poucas mulheres ousaram se rebelar. No Ceará, um exemplo concreto é a participação de Bárbara de Alencar, na Revolução de 1817, vítima de seu ambicionado sonho de Liberdade[12]. Outro exemplo de bravura da mulher cearense é o de Jovita Alves Feitosa, no contexto da Guerra do Paraguai[13]. Antes de serem denominadas de Heroínas da Pátria, muitos foram os que as vilipendiaram, inspirados apenas no ódio e intuitos políticos.
O Movimento Abolicionista no Ceará foi a porta de entrada que permitiu a Mulher falar em público, pois até então só podiam participar de atos públicos como ouvintes. A exemplo, o discurso de Emília de Freitas na ocasião da fundação da Sociedade das Senhoras Libertadoras e o recital dos poemas de Francisca Clotilde no glorioso 25 de Março de 1884.
Quando uma Mulher - a Princesa Isabel, assumiu o Trono Imperial sua Atitude Política foi a de assinar a Lei Áurea aos 13 de maio de 1888. O que ocasionou a Proclamação da República em 1889. Em 1891 veio a Constituição Federal.
Passado o período transitório surgiram as insatisfações com as práticas políticas do novo Regime. Isso arrancou da pena de Francisca Clotilde o artigo O Direito do Povo, o qual transcrevemos na íntegra:

Sabedoria popular! Bonitas palavras inteiramente vazias de sentido no apregoado regime das Repúblicas!
Temos o exemplo frisante do que se passa entre nós, neste triste espetáculo que o Brasil apresenta perante as nações cultas da terra. Para que serve o direito do voto? Qual é o fim dos comícios eleitorais?
No entanto, qual é o resultado dessa atividade sagrada e respeitável? Os partidos impõem o reconhecimento de seus adeptos e, embora tenham eles tido a minoria e seja isso um fato claríssimo e indiscutível, saem vitoriosos e vão às câmaras alardear o seu prestígio e apresentam projetos que fazem envergonhar os que dentre eles são mais escrupulosos e menos indignos.
É isto que chamam República? Pobre povo!
O teu direito é conspureado a todo instante, só tens que suportar o vexame do imposto, o jogo dos mandões, a prepotência dos chefes que colocam os seus interesses acima de tudo.
Trabalhas para que a tua Pátria tenha soldados e vasos de guerra que a tornem respeitada e, quando é mister o teu sacrifício os homens de farda fazem de ti o alvo de suas carabinas e os encouraçados chegam aos teus portos a fim de bombardearem as tuas cidades?
Sonhas a liberdade e a justiça?
Utopias!
Para seres livres é preciso que derrames o teu sangue generoso nas praças e nas ruas, que, esmagues os teus affectos mais fortes indo de armas na mão enfrentar esses irmãos desnaturados que desejam o teu aniquilamento e o teu captiveiro moral.
No dia que acordas como um leão selvagem o teu despertar é terrível.
Derrubas os tiranos, como fizestes a 24 de janeiro e, repugnando-te manchar as tuas mãos com o sangue dos que te esmagavam no furor de seu despotismo, perdoa os desvarios envolvendo-os na esmola de tua misericórdia.
Tudo se encaminha numa corrente fatal para o desprestígio de uma Nação que devia espirar os mais elevados ideais.
Que ressoe pela imprensa o grito que nos vem do íntimo verberando os desmandos e injustiças com que se celebram os timoneiros da nau governamental.
Será vencido o povo?
Continuará a ser vítima do partidarismo egoísta dos maus cidadãos, ameaçado pelas baionetas e pelos canhões?
Deus proteja o Ceará, que atravessa uma fase difícil, e livre os meus patrícios de lutas fratricidas fazendo-os gozar as delícias de um governo digno e justo[14].

As lutas partidárias rolavam em todo o Ceará desde os primeiros anos da República, vinha tomando aspectos violentos quanto mais se radicava e fortalecia a ascendência do Comendador Nogueira Acioly na política do Ceará. Sobre esse quadro afirma Joaquim Pimenta:

Eleito Presidente do Estado em 1896, daí por diante se foi tornando em donatário único de sua terra, pois até no quadriênio seguinte, em que teve por sucessor o Dr. Pedro Borges, era ele quem decidia, como árbitro supremo, dos negócios políticos e altos interesses do Governo. Eleito novamente em 1904 candidatou-se à própria sucessão, reelegendo-se em 1908. Tão pertinaz obsessão de mando e perpetuidade no poder cada vez mais exasperavam as arraias oposicionistas, sobretudo, na capital, porque no interior do Estado os chefes locais, fiéis à política dominante, sustavam qualquer movimento de reação, trucidando os adversários, depredando as suas propriedades, compelindo-os a fugirem, muitos, com a roupa do corpo, para os estados vizinhos[15].

Nesse quadro político é criado em Fortaleza a Liga Feminina (1904) da qual faziam parte entre outras Alba Valdez (presidente) e Francisca Clotilde. Mais tarde a Liga resolveu tomar partido nos destinos políticos do Ceará, conforme o artigo A Mulher na Política: 

Hoje, que o movimento progressista da humanidade se tem desenvolvido de modo extraordinário e animador, não é de estranhar que a mulher, deixando-se arrastar na onda de entusiasmo, fique ao lado do homem na luta pelas boas causas.
Desde os tempos mais remotos, vemo-la desempenhar um importante papel, apesar de ser considerada frágil e inconstante pelos espíritos pessimistas.
A história bíblica fala-nos de Débora doutrinando o povo à sombra das palmeiras e dando-lhes planos de batalha para repelir o inimigo; mostra nos a linda viúva de Betúlia que, inspirada por Deus, penetrou no campo dos Assírios e conseguiu degolar o general Holofernes.
Ao lado de Judite de destaca-se a figura não menos gentil de Ester que com uma diplomacia encantadora conseguiu vencer Assuero e salvar seus irmãos oprimidos.
A coragem de mãe dos Macabeus alia-se ao valor da mãe de Gracos, que ia ao templo agradecer aos Deuses em vez de prantear a morte dos filhos em defesa da Pátria.
Clotilde, a esposa de Clóvis, foi fundadora da monarquia francesa e à sua influência deveu a França um período de prosperidade e de vitórias.
Foi o próprio Deus que arrancou a pastorinha de Domremy à placidez de sua vida simples e atirou-a no campo da luta para fazer sangrar Carlos VII e salvar o império francês.
O nome de Joana D’Arc é venerado por todos e a Igreja a colocou entre os bem aventurados porque o seu patriotismo irradiava os reflexos da virtude mais sólida, de pureza mais angelical.
Foi Catarina de Médicis a instigadora fanática dessa tragédia horrorosa que fez correr o sangue dos huguenotes na Saint Barthélemy e, quando a França se debatia agitada convulsionada na revolução cujo advento foi a tomada da Bastilha, as mulheres inflamaram-se e acompanharam os cidadãos nessa tentativa audaciosa de tomar a fortaleza secular sem temer os canhões, nem a guarda real, auxiliando, animando, batendo-se ao lado dos defensores da causa do povo.
Théroige de Mericourt, a revolucionária das ruas sobressaia nas caminhadas populares e foi Mme. Roland´ a alma da revolução cujo cérebro idealizava planos da mais alta política entre os Girondinos e cuja cabeça ao cair no cadafalso ainda teve lampejos de inteligência pelo bem do povo.
Em que pese aos obscuristas, o tempo do fuso e da roca já desapareceu na voragem do passado e hoje a mulher, se não tem o direito de se apresentar nos comícios eleitorais, porque a lei não lh’o quis ainda conferir, tem o direito sagrado de acompanhar o homem, máxime quando ele se bate pela pátria em seus dias nefastos e trabalha pela liberdade e pelo progresso.
Por que estranhar que se tenha criado a Liga Feminina em prol de uma candidatura que é a esperança de um Estado oprimido e digno de melhor sorte?
Porque censurar as manifestações a que as próprias crianças se associam com o sorriso nos lábios e a inocência lhes irradiando na fronte?
Falem contra a mulher cearense; eu aplaudo-a porque confio que a sua presença nestas festas populares é um prenúncio de triunfo para a boa causa e concito-a reanimar o valor de seus filhos e a ensinar-lhes que, acima dos governos mal inspirados, está a imagem da Pátria pedindo amor e sacrifício, impondo-se à nossa veneração, pairando serena e controlada como o céu que se desdobra sobre nossas cabeças lembrando-nos que Deus para reunir a humanidade teve também o concurso sublime de uma mulher que Ele colocou à sua destra, acima de todas as criaturas, no fastígio da glória e da imortalidade.

Quando da Campanha de Acioly X Rabelo. Francisca Clotilde se posicionou em prol da candidatura do Coronel Marcos Franco Rabelo em oposição à oligarquia Acioly, chefiada no Ceará, há dezesseis anos, pela família do comendador Antonio Pinto de Nogueira Acioly, escrevendo vários artigos a favor do seu preferido, publicados na “Folha do Comércio”, posteriormente organizados em brochura “Pelo Ceará”, da qual recortamos e transcrevemos: “Apelo Patriótico”


Aproxima-se o 11 de abril.
É o dia em que deve ser sufragado nas urnas o nome idolatrado do candidato do povo, o Tenente Cel. Franco Rabelo.
Cearenses! Mostrai o vosso patriotismo a hombridade de vosso caráter, a grandeza dos sentimentos que, vos animam dando o voto de cidadãos livres e autônomos ao vosso ilustre patrício, cuja vitória importa uma nova fase de prosperidade e engrandecimento para o Ceará.
Temos direitos sagrados garantidos pela Constituição, não poderá nunca o partidarismo impostor afastarmos do cumprimento de nosso dever cívico,
O nome do Cel. Franco Rabelo anda em todas as expansões festivas, tem um imã que atrai as próprias crianças que a todo o momento proclamam em estrepitosos vivas.
Foi ele que animou os derrubadores de nefasta oligarquia, há de ser ele o nosso hino, é querido do povo, basta relembrar a apoteose que lhe foi feita em sua chegada a Fortaleza.
Todos se agitaram num ímpeto de entusiasmo indescritível. Desde o rude jangadeiro ao mais afamado capitalista, desde o velho enfraquecido pelos anos à petizada, grande e trêfego, houve uma manifestação espontânea, colossal e nunca vista de simpatias e afeto em torno desse nome que vale uma epopéia para os bons cearenses que, acima de tudo, colocam os santos interesses da Pátria.
Votar em outro candidato é um absurdo, é mostrar adesão aos oligarcas, é querer fazer causa comum com os inimigos do Ceará.
Não! Outro nome, por mais ilustre que seja não deve ser sufragado no próximo pleito eleitoral.
Não há partidos quando se impõe o dever. E o nosso é consagrar nas urnas o distinto militar, talinho d’elite, coração de ouro, alma generosa e impulsionada pelo amor a terra do berço.
Não transijais, cearenses filhos da Terra da Luz!
Mostrai-vos grandes perante as Nações, perante o Mundo inteiro.
Confiemos no poder supremo que rege o Brasil.
Ele não há de violar a Constituição que é a sua bússola, protegendo este ou aquele candidato em detrimento da lei.
Às urnas, pois, de fronte erguida, a consciência cheia dos reflexos do álamo sol da justiça que já vai iluminando a nossa Pátria!
Nada de fraudes, como no tempo das trevas, somos livres, cantemos a aleluia da vitória, fazendo triunfar a candidatura simpática do Dr Marcos Franco Rabello[16].

Joaquim Pimenta, em "Retalhos do Passado", registra seu envolvimento na candidatura do Coronel Marcos Franco Rabelo: 

Autorizado por João Brígido, procurei no quartel general o Coronel Franco Rabelo a quem comuniquei que os chefes políticos da oposição à política do Comendador Nogueira Acioli haviam resolvido lançar a sua candidatura à Presidência do Estado[17].

No diálogo travado entre Pimenta e Rabelo, este último fez referência ao grupo de políticos: o dos Paula Pessoa, antigos correligionários do seu sogro, o General José Clarindo de Queiróz, deposto da Presidência do Estado por Floriano Peixoto, quando da revolta armada, em 1893. Citando alguns nomes que dariam apoio a referida candidatura prossegue Pimenta:

Procurava, então, fazê-lo entender que outros eram os nomes que encabeçavam a reação política contra a oligarquia, em um combate sem descanso, sem tréguas, expondo vidas e sacrificando haveres, entre eles, João Brígido, Agapito dos Santos, Valdemiro Cavalcante, Moreira da Rocha, H. Firmeza, Manuel Sátiro, Rodrigues de Andrade, além de elementos destacados das classes conservadoras, das profissões liberais e de uma pequena, porém decidida legião de moços da Faculdade de Direito. Entre eles, Adonias Lima, José Lopes de Aguiar, Francisco de Alencar Matos, Júlio Maciel, Antonio Pinto de Areal Souto, Caetano Estelita, Florêncio de Alencar, João Mendes de Carvalho, Leonel Chaves, José Façanha, Gustavo Barroso, Júlio de Oliveira, Sila Ribeiro, Boanerges e Américo Facó, Hermenegildo Porto, Godofredo Maciel e Virgílio Barbosa[18].

A revolta popular contra os Acioly teve seu auge em três passeatas em janeiro de 1912. Nas duas primeiras - sendo a segunda promovida pela Liga Feminina, com participação de centenas de mulheres - a polícia interveio, atirando, provocando correrias, atropelos e gente ferida.
Foi a terceira passeata, realizada  no dia 21 do mesmo mês, que serviu de estopim para a revolta, quando Acioly mandou a cavalaria investir sobre uma manifestação que reunia 600 crianças - vestidas de branco, com enfeites verde-amarelos e portando um medalhão de Franco Rabelo ao pescoço - matando e ferindo algumas, além de fazer outras vítimas dentre os que estavam no local. Sobre estes episódios, Francisca Clotilde escreveu, “21 de Janeiro”:

A pena recua descrevendo o sinistro desfecho desta passeata que tinha por objetivo render uma justa homenagem ao candidato querido do povo cearense. (...) Mas de onde partiu o ataque brutal e sem exemplo na história dos povos cultos? Quem mandou atirar sobre os defensores da inocência espezinhada durante 3 dias? (...) O povo não pode ser, não será jamais a vítima dos oligarcas de tétrica memoria! Nós os expulsamos para sempre!

Saindo vitorioso o Coronel Franco Rabelo candidato preferido por Francisca Clotilde e por Joaquim Pimenta, Francisca Clotilde escreveu: “Victória[19]”,

“Viva o Ceará livre!”.
É a frase que se ouve por toda a parte, num grande ímpeto de entusiasmo, a vibrar em todos os lábios, estampada nos telegramas ecoando pelas ruas e pelas praças como a estofe da epopéia. Que festeja a vitória de um povo herde.
Sim, mais uma vez a sabedoria popular arrancou das culminâncias do poder a oligarquia que abusou da confiança pública e, em vez de honrar a posição que ocupava, enveredou pelas sinuosidades do eno desviando-se do verdadeiro caminho a seguir.
Grande e terrível lição!
Desanuviaram-se os nossos horizontes. A treda noite substituiu o rossicler da liberdade... Repercutem alvissareiros hosanas e o júbilo que, há 28 anos, agitou a alma cearense, sacode-a no momento atual em vivos frêmitos de uma sensação empolgante que não se pode descrever.
A linda Princesa do Norte reveste suas galas mais opulentas e as virgens morenas tecem coroas para os jovens heróes que afrontaram a morte, correndo em defesa de seus direitos com o valor de verdadeiros apartanos.
Sim, o Ceará é livre!
É livre à custa de seus filhos que não podendo mais suportar o peso ferrenho de um governo odioso cantaram a Marselhesa da fraternidade e uniram-se nas praças públicas para derrotar as forças que atropelavam as crianças fazendo os vivas expansivos converterem-se em gritos de dor e soluços de mães desoladas.
Ah! Mas a alma dessas crianças trucidadas falou em face de Deus pelos direitos do povo e ei-la por terra reduzido ao nada, atirada ao opróbrio dos prósperos a nefanda oligarquia que envergonha as glórias da Terra da Luz.
Redimida duas vezes, terra dos mares indômitos, ergue-te exultante e venturosa porque os teus filhos são dignos de teu afeto e fizeram respeitar-te as honrosas tradições selando com o próprio sangue a tua liberdade.
Glória aos bravos defensores dos direitos sagrados do povo! Eterna maldição aos que cobarde e indignamente os conspurcaram!

Francisca Clotilde cantou o "CEARÁ" em versos e dedicou "Ao Revdo Padre Paulino Nogueira"

Princesa dos Verdes Mares,
Oh! Minha terra querida,
Eu te saúdo contente
Nesta data enaltecida!
Quisera em lira dourada,
Em trenós harmoniosos
Proclamar ao mundo inteiro
Teus feitos sempre alterosos.

Teu céu azul é sereno,
São belas tuas campinas,
Quando em abril se matizam
De vicejantes boninas;
Doces vozes se desprendem
Nos galhos por entre os ninhos,
Onde cantam seus amores
Milhares de passarinhos.

A linfa que nos verdores
Desliza sonora e pura
Cicia ternos segredos
Das matas pela espessura;
E a refletir docemente
O azul sereno dos céus
Parece um límpido espelho
Da glória imensa de Deus.

Oh! Meu Ceará querido,
Bela pátria de Alencar,
Com quanto amor te venero
Oh! Como sei te exaltar!
Na fúlgida constelação
Da terra de Santa Cruz,
És a estrela mais brilhante,
Oh! Grande Terra da Luz!

Tem flores, as mais formosas,
Aves de todas as cores,
As borboletas mais lindas,
Os mais gentis beija-flores;
O teu luar argentino,
A se espalhar sobre o mar,
Inspira meiga poesia,
Obriga a gente a sonhar!...

Salve, terra abençoada,
Que na noite procelosa
Da dor soubeste vencer
Sempre de pé, corajosa;
Que cantem com ufania
O esplendor, a vitória,
E os cearenses que honram
Teu nome cheio de glória.[20]

Sobre o governo de Franco Rabelo, diz Joaquim Pimenta, em Retalhos do Passado (1949):

E assim, depois de um movimento popular, tal e qual como o de Pernambuco, lá se foi o Coronel Franco Rabelo para a Presidência do Ceará, com o mesmo destino do sogro, de ser, muito antes de terminar o quatriênio, deposto por bandoleiros do Cariri, arregimentados pelo Dr. Floro Bartolomeu, lugar-tenente do padre Cícero, este, a serviço de manobras políticas do general Pinheiro Machado.

Uma vez deposto O Cel. Franco Rabelo, a pena de Francisca Clotilde escreve o artigo intitulado "Ideal Desfeito"

Franco Rabelo não vem mais!
Esta frase soou há poucos dias neta cidade, triste como o dobre de finados, esmagadora como uma alavanche, em meio ao entusiasmo de um povo que se julgava invulnerável em sua soberania e seguro nos seus direitos garantidos pela Constituição.
Foi um aniquilamento de esperanças que floresceram à sombra de um nome que era um Poema harmonioso, a vibrar em todos os lábios, foi um choque terrível que nos atordoou como se caíssemos de muito alto numa vala profunda, humilhados, escravizados, vencidos...
Nesta cidade velha pacata fez-se uma tristeza indescritível.
As crianças, acostumadas à vivas alegres quando estrugia o fogueteiro anunciando uma notícia agradável, quedaram-se e indagaram: Franco Rabelo não vem mais?
E algo de melancólico nublava-lhes o olhar sereno que refletia a inocência de um doce afeto ao candidato do povo.
Ah! Os conchavos políticos, a prepotência dos mandões escolheu o outro presidente para o Ceará.
Para que servem então os comícios eleitorais? A que está reduzido o direito no povo?
Ele apresentava o cunho verdadeiramente popular, impunha-se. Portanto, perante o governo, merecia o seu apoio mais sincero.
E por que não podia o ilustre militar governar bem ao ceará?  (...)
Ele não virá, porém o seu nome escrito no íntimo de nossas almas jamais se apagará e nunca, oh! Nunca mais cearense algum terá a apoteose que lhe foi feita.

Mesmo vivendo numa época cheia de convenções e alienações de toda natureza, é possível sentir o peso da inteligência e coragem de que era possuidora Francisca Clotilde.
A título de curiosidade, a primeira mulher cearense a se tornar eleitora, foi por ordem do Juiz Livino de Carvalho, que mandou incluir no alistamento eleitoral D. Carmelita Barcelos de Aboim, esposa do jornalista Alfeu Aboim.























A Teatróloga

O teatro é uma escola de civilização, não somos nós os primeiros a dizê-lo. Nele se corrigem os costumes, e se faz nascer no povo o gosto que ameniza o trato e sem o qual não pode haver perfeita sociabilidade.

Antero Pereira


O teatro, a dramatização tem duas vertentes fundamentais, o entretenimento e o educacional. Trás consigo vários valores. Valores sociais, lingüísticos e literários. O enredo compreende uma introdução, um meio e um fim. O tema é uma verdade básica que se quer provar. Enfim, drama vem do grego e significa representar, fazer algo. Na ação está o desenvolvimento do drama. A ação desenvolve-se através de movimentos ritmos, pantomimas, diálogos, etc.
O teatro brasileiro nasceu ao ar livre, onde a natureza era parte importante do cenário. Num clima de festa, consagrando todos os habitantes das pequenas vilas e aldeias, as peças eram, por isso escritas em tupi, depois em latim e por último em português. Nosso primeiro autor, o jesuíta José de Anchieta era natural das Ilhas de Canárias. E suas peças foram escritas como um meio de ajudar na catequese dos indígenas.
Já no século XIX, o grande ator brasileiro era João Caetano, dono também de uma companhia de teatro, como era usual. Em 1838 montou a peça “Um juiz de paz na roça”, peça com a qual Martins Pena fundaria a próspera comédia brasileira. A abordagem de assuntos nacionais era uma preocupação do teatro da época.
Início do século XX, 1910 surge João Álvaro Quental Ferreira, ou melhor, Procópio Ferreira (pai da célebre Bibi Ferreira), o mais conhecido ator brasileiro. Dali Procópio tirava sua sustentação financeira, mas também lançou grande número de autores nacionais. Ele chegou a pagar um salário mensal a Dias Gomes para que este produzisse uma peça a cada três meses (Bibi Ferreira, programa Jô Soares, 2006).
Enquanto isso em Baturité e depois em Aracati, Francisca Clotilde escreve várias peças teatrais: monólogos, diálogos, comédias e dramas históricos, inclusive traduções, pois dominava a Língua Francesa. É mais uma prova de seu espírito de riquíssima inspiração, como tudo nos faz crer.
De acordo com a pesquisa foram encontradas referências às seguintes peças teatrais de Francisca Clotilde, provavelmente existiram outras a que não tivemos acesso,

Fabíola, Drama Sacro em 3 atos, 1902;
Devaneio, Monólogo, 1908;
A filha de Herodes; Drama histórico; 1909;
As flores do Natal. Drama em 2 atos. 1909;
O Sol e a Lua, Diálogo, 1910;
Amparativista, Drama, 1915.
Santa Clotilde. Drama; 1915;
Pérolas do bosque. Drama em 3 atos, 1918;
A crise. Comédia em 1 ato. 1919;
Visitas importunas. Comédia em 1 ato, 1921;
O Bailado das Artes, Jogral musicado, 1921;
A Toutinegra do Moinho. Drama em 3 atos, extraído do romance homônimo, de Emile Richebourg, 1921;
Azar do hotel. Comédia em 1 ato. 1921;
Martyrio e Glória, 1921.

Mais importante: eram representados no Externato Santa Clotilde e posteriormente no Teatro Santo Antonio de Aracati por alunas e alunos. No monólogo “Devaneio[21]” Francisca Clotilde questiona as diversas condições em que vive a mulher,

Não sou escrava da moda. Absolutamente não me sujeito aos caprichos desta deusa  varia. Aprecio o que é bello, entusiasmo-me pelas boas novidades, gosto  mesmo às vezes de ser tantinho original; mas sou refratária a tudo que cheira à exigência.
Conheço certas senhoras que só falam em figurinos, guarnições, fitas e ponguês.
O manequim é um ídolo, a modista é uma espécie de criatura ideal que sonha nos páramos azuis das fantasias cousas extravagantes, utopias maravilhosas e irrealizáveis.
Os pobres livros cobrem-se de pó. Algumas vezes pegam um romance que mais prejudica a sonhadora. Leituras sérias, quem viu? A mulher literata é uma aberração, é bicho de sete cabeças. De que serve conhecer-se Byron, Goethe, Tasso, Milton etc? Será melhor um pouco de arte culinária e aqui devaneio alguma cousa

(CANTA)
Se detesto manequins
Eu tenho horror ao fogão
Tisnar dedos no serão (?)
Ou queimá-los em pudins.

Não é cousa que deleite;
Portanto sou refratária
A tal arte culinária
Que cheira a alho e azeite.

(FALA)
Depois a mulher não nasceu para o fogão. Já se viu cousa mais absurda  do que uma dona de casa ou moça de avental de cozinheira, com as mãos calejadas a pele amarelada pela fumaça, que é anti-higiênica e insuportável?
Pobres mulheres! Se, cismam ao luar nessas noites claras e poéticas, em horas de recolhimento e de prece são românticas, se estudam e dão regras em literatura chamam-nas de sabichonas, se apreciam a moda são ridículas, se  freqüentam  a igreja são beatas, se não se casam atiram-lhe o infante labéu de solteirona!
E a propósito devaneio um pouco e, aqui para nós acho que a mulher tem o mesmo direito que o homem de figurar na sociedade e, tendo deveres a cumprir, faz-se mister estar preparada  e disposta  à lucta pela vida.
E nos azares da guerra! Amo a minha Patria; mas Deus me livre de pegar em armas para defendê-la.  Tenho tanto medo de carabinas, rifles, e, apesar de não ser nervosa, só a descrição de uma batalha me faz estremecer.
Aprecio as doçuras da paz. Como é belo combater com as armas da civilização; a pena  e o livro, em vez da espada e do canhão.
Só aprecio
Uma risonha batalha,
Em que as flores são metralha.
Passemos ao terreno da música. Gosto de dança correta, com uns tons antigos, arrastada, séria enfim. E então ao ar livre, em pleno campo, sob o céu estrelado ao murmúrio das brisas, deve ser um exercício encantador. E a pintura, a música!
Sinto o espírito elevado em arroubos sublimes quando ouço uma música sentimental, em tom menor, abandonada, doce como o gorjeio da patativa quando o dia some.
Não gosto de música clássica; é pesada, monótona não fala ao coração.
E a propósito de música, lembrei-me de visitar um dia uma amiga que pensava muito  encontrei-a lavada em lágrimas, devido às vicissitudes da vida fôra forçada a vender o violino, seu instrumento predileto. Lamentei-a  e fiquei sabendo que é bem inconveniente ser artista, se não pudemos garantir o futuro.

(CANTA)
Já se vê, pois, que poetas,
Literatos, sonhadores,
Artistas, inovadores,
Descobridores, atletas,

Todos têm a desvantagem
De ser escravos da sorte
Embora tenham coragem
Não se libertam da morte!

(FALA)
E agora para findar a fantasia a que me entreguei não quero ser modista, nem sabichona, nem medica, nem política: quero ser o que sou: uma criança despreocupada e feliz, para quem a vida é uma aurora festiva, um sorriso constante, uma doce e risonha primavera coberta de flores e trescalente aos mais puros sentimentos do coração[22].

Em "A Amparativista", 1915, Francisca Clotilde aborda o vício do "jogo do bicho", a mera ilusão de todas as classes sociais de ganhar dinheiro fácil.
No diálogo entre "O Sol e a Lua", a fértil imaginação da autora traça a medição do poder entre dois astros, assim encerrado:

SOL:   Por este espaço flutua,
           Do alvorecer ao arrebol,
           Minha grandeza, que a tua
           Não vale um raio de sol.

LUA:  Mas, ao meu doce clarão,
Os sonhos da mocidade
Infiltram no coração
Um lenitivo à saudade.

Através do "Bailado das Artes", Francisca Clotilde elege a Poesia, a Música, a Pintura, a  Dança, a Escultura, a Equitação, a Agricultura, a Imprensa, como as principais artes da humanidade:
CORO:
Representamos as Artes,
Sempre belas e primorosas,
Temos de todas as partes,
Homenagens fervorosas.

Do progresso universal,
Como seguros fatores,
Garantimos afinal
A glória aos conquistadores.

POESIA: Temos certo a primazia,
Atinjo a maior perfeição,
Sou a invencível poesia
Que domina o coração.

Traduzo com meu vigor
Toda graça e suavidade
Que têm os sonhos de amor
E as tristezas da saudade,

Representamos, etc.

MÚSICA: Afetos sublimizados,
Os mais ternos sentimentos
Expressam bem afinados
Os meu vários instrumentos.

Quer num tom alegre ou triste,
Só despertam simpatias,
E nada no mundo existe
Que me exceda as harmonias.

Representamos, etc.

PINTURA: Eu sou a alegre Pintura
Tenho graça e beleza,
Sou viva, sincera e pura
Amante da natureza.

Guardo as lembranças queridas
Em quadras de seleção,
Na minhas cores mais finas
Se compraz o coração.

Representamos, etc

ESCULTURA: Os vultos que sagra a História
Do meu cinzel o primor
Faz reviver para a glória
Cercados d’áureo esplendor.

Quem não conhece o meu nome?
Eu sou a bella escultura...
O tempo todo consome;
Mas minha força é segura.

Representamos, etc.

DANÇA:  Nos salões mais se aprimora
O encanto que em mim transluz
Sou festiva como a aurora,
Tenho graça, vida e luz.

Sou a dança que fascina
Em seus torneios variados,
Desde a galante menina
Aos jovens mais delicados.

Representamos, etc.

EQUITAÇÃO: Tenho igualmente um brasão
Na falange decantada,
O meu nome – Equitação –
Sou deveras apreciada.

Nas pistas e nas corridas
O jovem belo e garboso
Faz conquistas decididas
Ao meu influxo gracioso.

Representamos, etc

AGRICULTURA: Transformo a face da terra,
Mudando espinho em flores,
Quanta vida não decerra
O arado! Quantos primores!

A Agricultura bendita,
Igual é uma mina d’ ouro,
Produz riqueza infinita,
É um perfeito tesouro.

Representamos, etc.

IMPRENSA:  Nada pode resistir
Ao meu prestígio sem par,
Sou a imprensa...e de porvir
Eu sei a trilha aclarar.

Rompi as brumas... e radiosa,
Como uma estrella nos céos
Brilha nas trevas, ansiosa
Esgarça da noite os véus.

Representamos, etc.

CORO FINAL: Em bela e nobre falange
Seguimos trilho seguro,
Ninguém há que desarranje
As vitórias do futuro.

As Artes, sempre gloriosas,
Terão a maior influência
Nas conquistas mais honrosas
Nas lutas da inteligência![23]

O historiador Antero Pereira em palestra “O Teatro no Aracati Antigo”, realizada no dia 25 de agosto de 2004, evidenciou a produção cultural em Aracati através de diversos relatos publicados nos jornais de circulação na cidade a partir de 1859,

Nas décadas de 1910 e 1920, tivemos nossa Francisca Clotilde como incentivadora do nosso teatro (Revista A Estrella). Outro grande incentivador do teatro aracatiense foi Dr. Eduardo Alves Dias que promoveu a encenação de várias peças teatrais. O circo também foi um dos grandes promotores do teatro em Aracati. O final do espetáculo era sempre um drama que emocionava a platéia.[24]

Francisca Clotilde não se limitava apenas a Aracati. Por vezes era convidada para apresentar suas peças em outras cidades. Antonietta Clotilde, redatora de A Estrella, na edição de julho de 1915, noticia a apresentação do drama sacro, Fabíola:

Frei Marcelino de Milão, o grande apóstolo da Religião de Jesus, teve a 29 de junho, o grande ensejo de receber singelas e expressivas homenagens da simpática população de "Nova Esperança", Município de Porangaba, no Festival dramático realizado em sua honra.
No gracioso teatrinho "São Francisco", condignamente preparado para tal fim, foram levedos à cena diversos pecinhas que agradaram intensamente ao seleto auditório e ao virtuoso homenageado, não só pela acertada escolha, como pelo corretissimo desempenho dado aos vários papéis pelas inteligentes senhoritas que tomaram parte na representação.
Fabíola, drama sacro em que figuraram as apreciadas amadoras: Maria Cavalcante de Oliveira, no papel de protagonista; Maria Elita de Oliveira, Maria Júlia, Maria do Carmo, Joaninha, Marinha e Fransquinha Dantas, Francisquinha Falcão, Argentina Saraiva, Rosinha Ribeiro, Maria, Joaninha e Joaninha de Oliveira e Silva, que interpretaram outros personagens.[25]

No ano de 1921, Francisca Clotilde foi convidada para apresentar Martírio e Glória, na cidade de Fortaleza, conforme noticia A Estrella:

A 17 de Novembro, em Fortaleza, foi encenada no Teatro da Escola de Jesus, Maria e José, a peça "Martírio e Glória", de Francisca  Clotilde. O êxito foi completo, graças ao bom gosto e interesse dos ensaios Melle. Dulce Thaumaturgo e suas infatigáveis auxiliares.
Interpretaram a peça: Suzette e Rosely Falcão, Zilda Vieira, Maria e Zilda Dutra, Alcides Cavalcante, Zélia, Isa e Alba Fernandes, Isinha Valle, Maria Luiza Oliveira, Mayr Memória, Cecy Lemos, Agrícola Aguiar, Jose Serra Guimarães, Moacyr Albuquerque e Walter Sá.
Tomaram parte nos bailados algumas encantadoras interpretes e as lindas crianças: Luiz, Carlos e Lucia Arruda, Aglais de Albuquerque, Maria Jose Bezerra, Emir Sá, Margarida Viana, Nair e Stella Sindou, Maria de Lourdes Correia, Zila, Lourdinha e Laías Fernandes. Cantou com muita graça a “Copeirinha” a gentil Nenen Dibe.
A orchestra, sob a regência do consagrado maestro Silva Novo, compôs-se das gracis: Lydia Barreto, Joaninha Barboza Lima, Maria de Lourdes Lemos, Julita e Laurita Monteiro, Maria de Lourdes Barreto, Noemi Nunes Freitas, Raymunda da Silva Barros e o jovem Jayme Nogueira. Tocou nos intervalos a harmoniosa banda musical do regimento Militar, cedida por seu digno comandante. Atiramos um chuveiro de pétalas, aromatizadas de afetos, sobre as representantes do “Martyrio e Glória”.[26]

Segundo Otacílio Colares (1979:184), Renato Viana, um dos mais batalhadores do teatro Nacional, fundador do Teatro Anchieta e da Escola de Arte Dramática de Porto Alegre, ligado sentimentalmente ao Ceará, já quando homem maduro, diz que, “Se em outros estados da federação se fizesse o que se tem feito no Ceará, não há dúvida de que o Teatro Nacional, em poucos anos, deixaria de ser a ridícula utopia de hoje”.


















Contemporâneas de Francisca Clotilde

A memória coletiva é definida como ‘o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que os grupos fazem do passado’, pode a primeira vista opor-se quase termo a termo à memória histórica como se opunha antes memória afetiva e memória intelectual.
Pierre Nora

Se até agora falamos de Francisca Clotilde, é chegada a hora de conhecer um pouco algumas contemporâneas, com quem ela manteve laços de amizade e de luta em prol da luta abolicionista, dos ideais republicanos – portanto, intimamente ligadas às mais lindas páginas de nossa história do Ceará, seja na área social, política, educacional e literária.
Antonio Sales dando notícia da presença da Mulher na literatura do Ceará assim se expressa:

A cearense é por excelência a mulher do lar, a companheira dedicada do homem, a mãe de família que tudo sacrifica por amor de sua gente e pela boa manutenção de sua casa.
Não que lhe falte inteligência. Ao contrário, sempre que é posta à prova a mentalidade feminina em nossa terra, se revela vigorosa e apta para ilustrar-se nas ciências e nas artes.
Mas em nosso meio e em nosso clima a mulher é muito feminina para ser feminista, e a família tem uma consistência tão forte que ser a dona de um lar é ainda a suprema e quase exclusiva aspiração de uma moça cearense.
E há ainda algumas inteligências femininas brilhantes, mas tão ocultas sob o véu da modéstia, que seria indiscrição arrancá-las ao segredo e à sombra em que se comprazem viver.
Francisca Clotilde e Emília de Freitas foram, na passada geração, os dois únicos nomes de escritoras, que se tornaram conhecidas em nosso meio.
A primeira colaborou abundantemente, publicando artigos e contos reunindo parte destes num pequeno volume – Coleção de Contos. É autora também de muitos versos, que não foram publicados em volume, e de um romance – A Divorciada.[27]

Emília de Freitas – Nascida em Aracati, no ano de 1855, morando em Fortaleza, desde 1876 aparecem trabalhos seus na Imprensa. Participou ativamente do Movimento Abolicionista, tomando parte na Sociedade das Senhoras Libertadoras. Na Sessão solene de instalação dessa Sociedade, ocupou a tribuna, rompendo os padrões sociais de comportamento, então estabelecidos para as mulheres:

Antes de manifestar as minhas idéias, peço desculpa à ilustre Sociedade Cearense Libertadora para aquela que, sem títulos ou conhecimentos que a recomendem, vem felicitá-la pela primeira vitória alcançada na ditosa vila do Acarape.
Depois imploro ainda permissão para, à sombra de sua imortal bandeira, aliar os meus esforços aos dessas distintas e humanitárias senhoras, oferecendo-lhes com sinceridade os únicos meios de que disponho: os meus serviços e minha pena que, sem ser hábil, é em compensação guiada pelo poder da vontade.
As flores de nossos prados querem expulsar de seu solo esse monstro detestável (a escravidão) que em nossa pátria querida infamava e enegrecia as risonhas cenas da natureza!
Seja o prêmio de nossos esforços, vermos em breve os nossos caros patrícios voltarem do campo da ação, coroados de louros, agitando triunfante o pendão da Liberdade!

Primeira romancista do Ceará, autora de "A Rainha do Ignoto", do qual recortamos:

Julga você que a boa educação consiste somente em saber botar um espartilho, atacar um cinto, fazer um bonito penteado, cobrir as faces de pós de arroz, os lábios de carmim, calçar umas luvas, conhecer os artigos da moda, tocar um pouco de piano e dançar quadrilhas e valsas? Há outros conhecimentos muito mais necessários.
Quero dizer que a boa educação nem sempre tem a felicidade de sentar-se nas cadeiras estufadas dos ricos salões, costurando ou lendo à luz do candieiro de querosene[28]. 

Foi também poetisa. Muitas de suas poesias então publicadas em jornais esparsos que foram depois reunidas no volume intitulado “Canções do Lar”, 1891, e que trás uma curiosa introdução dirigida "Aos Censores".

Meu livro não tem padrinho, assim como não teve molde. Tem a feição que lhe é própria, sem atavios emprestados do pedantismo charlatão. Não é, tampouco, o conjunto das impressões recebidas nos salões, nos jardins, nos teatros e nas ruas das grandes cidades, porque foi escrito na solidão absoluta das margens do Rio Negro, entre paredes desguarnecidas duma escola de subúrbio. É, antes, a cogitação íntima dum espírito observador e concentrado que (dentro dos limites de sua ignorância) procurou numa coleção de fatos triviais estudar a alma da mulher, sempre sensível e muitas vezes fantasiosa.

Emília de Freitas faleceu em Manaus no ano de 1908.


Segundo Abelardo Montenegro (2001:187), só em 1887, na revista A Quinzena, de Fortaleza, figuram as primeiras colaboradoras literárias. São elas Francisca Clotilde e Ana Nogueira.

Ana Nogueira nasceu no Icó, a 22 de outubro de 1870, Em sua adolescência participou no Movimento Abolicionista daquela vila recitando os versos a seguir:


Salve oh! Loura liberdade!
Filha do céu e da luz.
Tu és a arca bendita
Da santa lei de Jesus.
...

És do céu a mensageira
Qual outrora Gabriel
Anunciando ao proscrito
Fim da treva cruel[29] .

Na Imprensa de Fortaleza Ana Nogueira colabora ao lado de Francisca Clotilde, em “A Quinzena”, o que leva a crer que tenha participado do Centro Literário. Do referido órgão recortamos o soneto “Teu olhar”

 

               Ao divino fulgor das alvoradas

As estrelas inquietas luminosas,
Ao puro lyrio, as delicadas rosas,
As frescuras das relvas perfumadas.

As borboletas meigas e douradas,
Volitantes, alegres, caprichosas,
Aos solfejos das aves maviosas,
Da casta pomba as asas prateadas,

Ao céu azul, sereno e radiante,
Ao claro sol de maio fulgurante,
A branca luz Virginia do luar.

A tudo isto que o universo adora,
As rosas, lyrios, aves e aurora,
Prefiro a doce luz do teu olhar[30].

Na mesma página, o soneto “Homenagem”, de Jane Davy[31], “À Ana Nogueira”:

Não te corre nas veias delicadas
O sangue azul da fátua realeza,
Nem te cerca o prestígio da grandeza
Que enaltece as cabeças coroadas;

Desconheces as regras variadas
Da etiqueta – requinte da nobreza.
Nem preferes a doce singeleza
Em que vivem as cortes decantadas.

A teus pés não se curva a multidão
Para beijar-te tua pequenina mão,
Quando passas incógnita e sozinha;

Mas, sendo, como és formosa, e boa,
Tens uma bela e fúlgida coroa,
E vales mais que uma rainha.

Ana Nogueira foi a única mulher a aparecer em O Pão, órgão de imprensa da Padaria Espiritual, visto ser esposa de um dos padeiros, Sabino Batista. Acompanha o marido em sua transferência para Recife, no vizinho estado do Pernambuco, onde passa a colaborar no Diário de Pernambuco, com sonetos, contos e crônicas. Teve participação na revista O Lyrio, ao lado de Amélia Freitas Beviláqua e Úrsula Garcia.
Infelizmente, assim como Francisca Clotilde, não reuniu em volume sua produção poética. Faleceu no Rio de Janeiro em 1963.

Uma outra escritora cearense contemporânea de Francisca Clotilde com quem manteve laços de Amizade foi Alba Valdez - nasceu no dia 12 de dezembro de 1874, no sítio Espírito Santo, em Itapajé. Aos treze anos veio para Fortaleza onde estudou na Escola Normal, diplomando-se em 1889 aos dezesseis anos.

Pertenceu a várias sociedades culturais de Fortaleza como O Centro Literário, A Boemia Literária e Iracema Literária. A maior parte de sua obra são textos, crônicas, contos e poesias. Em 1901, publicou “Em Sonhos”.
Como não havia espaço para a mulher na Academia de Letras, numa atitude evidentemente política fundou em 1904, a Liga Feminina Cearense, a primeira agremiação literária de Senhoras do Ceará, na qual foi Presidente, e da qual fez parte Francisca Clotilde.
Publicou também Dias de Luz, 1907. Segundo A República ed. de 08 de março, “Dias de Luz" é um volumezinho de 120 páginas – à moderna, portanto. Estão abolidos os livros maçudos em que, quase sempre, a carência de idéias contrastava com o profuso anterior”.
Foi, também, Membro da Academia Feminina de Letras, onde ocupou a Cadeira 16, Patroneada por Francisca Clotilde.
Alba Valdez foi a primeira mulher a ingressar na Academia Cearense de Letras, em 1922, ocupando a cadeira n.º 22, tendo como patrono Justiniano de Serpa. Excluída na nova fase de 1930. Escreve “De Pé”, no Jornal do Comércio de Fortaleza no qual fala da exclusão do elemento feminino na Academia.
Em 1937 na comemoração do Cinqüentenário do Instituto do Ceará, não perdeu a oportunidade de discursar, falando dos obstáculos enfrentados pelas mulheres do passado, assim se reporta:

Habituava-se a amar o Brasil pelo que ouvia e não pelo que sentia. Foi nesse ambiente, quando a mulher era mais mimada do que realista, quando pouco se comemorava a bravura de Bárbara de Alencar nos idos de 1817, proclamando a República no Crato, aderindo ao movimento de Pernambuco, que fracassou. A bravura de Jovita Alves Feitosa, notabilizando-se na Guerra contra os Paraguaios. A bravura de Maria Tomásia Filgueiras Lima, heroicamente batalhando pelo movimento abolicionista.
A mulher cearense do século XIX vivia naquele círculo fechado e compressor da família. Numa sociedade receosa de escândalos diante de tantos preconceitos, tendo ainda o pai da família na figura patriarcal e temida. O chefe que fechava seu clã dentro dos limites de uma conveniência exagerada e artificial, tendo como principal efeito desse rigor, o irreal da formação de suas filhas.
A leitura da jovem era vigiada com severidade, assim sendo perdia ela por um prolongamento. As prendas sabia-as quase todas, tocava piano, cantava, enfeitava. As moças liam Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e Castro Alves.[32]

Alba Valdez pertenceu aos quadros do Instituto do Ceará[33], tendo como Patrono Dr. Antonio Augusto de Vasconcelos, cuja Cadeira  teve como primeira ocupante a filha do Patrono: Júlia Carneiro Leão Vasconcelos - a primeira mulher que teve ingresso entre os pares daquele Instituto, sendo, portanto Alba Valdez a segunda.
Patrona Cadeira na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno desde 1970 tendo como primeira ocupante a sobralense Olga Monte Barroso[34].
Por ocasião do Centenário de Alba Valdez, Andrade Furtado, do Instituto do Ceará, fez um discurso em Homenagem a beletrista, do qual recortamos o trecho a seguir:

Alba Valdez pertence, destarte, à galeria dos autênticos valores de nossa vida mental, ao lado de Francisca Clotilde, Ana Facó, Maroquinha Estelita, Ana Bilhar, Maria do Patrocínio Furtado, Margarida Queiróz, Henriqueta Galeno e tantas outras educadoras e literatas, que elevaram bem alto a tradição de renome da Terra da Luz.

Em Dolor Barreira encontramos um soneto de Alba Valdez, que recortamos e transcrevemos: No Mucuripe,

O Mucuripe é uma visão Marinha,
Fala ao senhor nas folhas dos coqueirais;
Nas horas que proclama os jangadeiros
Olham do mar, a plácida igrejinha.

Se a tarde vem, a multidão se apinha
Nessa rude alegria dos peixinhos;
O sol golfeja sangue nos outeiros,
Beijando a enseada, a vaga borbolenha.

Olhos no Azul, ao som d’ Ave Maria
Uma velinha no portal sentada,
Reza contrita e o neto acarecia...

Na retina, no pranto morejada,
Retrata o filho que partira um dia,
E em vão pergunta o mar pela jangada.

Segundo Abelardo F. Montenegro, Interpretação do Ceará (2001:189), no final do século XIX e começo do Século XX, raro é a mulher que se aventurava a escrever usando o próprio nome. O pai de Alba Valdez (Maria Rodrigues Peixe) só dez anos depois veio, a saber, que a filha colaborava na imprensa fortalezense,

A beletrista reproduz o diálogo que manteve com seu pai:
_ Minha filha, você escreve em jornal?
_ Sim meu pai.
_ Ganha alguma coisa com isso?
_ Não.
_ Você imagina faz boa coisa? Pensa que não vai ter desgosto?
_ Já tenho experimentado aborrecimentos.
_ Pois eu não a proíbo. Espero, apenas, que não se arrependa um dia.

Alba Valdez faleceu no dia 5 de fevereiro de 1962, com 88 anos – dedicados à luta pelo reconhecimento das mulheres enquanto seres pensantes e capazes de exercer atividades intelectuais.
Outra contemporânea e amiga de Francisca Clotilde foi Serafina Pontes - Nasceu no Rio de Janeiro em 1860 e faleceu em Fortaleza em 11 de outubro de 1923. Considerada por Otacílio Colares a ultra-romântica do Ceará.
Teve uma trajetória de vida marcada pela tristeza e por acontecimentos desagradáveis. Nasce como fruto de uma relação clandestina e ainda recém nascida é abandonada pela mãe. Passa a infância em casas estranhas, até ser adotada por Francisco Alves Pontes, médico sobralense, em viagem ao Rio de Janeiro. Chega ao Ceará por volta de 1870. Um problema de visão a acompanha o resto de sua vida.
Em Fortaleza participou ao lado de Francisca Clotilde do Movimento Abolicionista, um passaporte para o progresso e para o adiantamento intelectual da Nação. Tiveram vida para ver a Abolição. Segundo Otacílio Colares,

Eram grandes amigas, e fraternas, a autora do Livro d’Alma e a polimorfa escritora cearense Francisca Clotilde... Dizemos com a mais viva recordação, da figura de Serafina Pontes, de longos cabelos lisos e já embranquecidos pela idade, e o sofrimento, a ditar para os nossos irmãos mais velhos, superando a insuficiência visual, versos e mais versos, sobretudo os de versos menor, de preferência acrósticos, gênero que ela muito se dedicou, até sua morte, em 1924.
É dessas nossas lembranças de cinco anos que faz parte, como contexto histórico sensorial, da primeira infância tornados presentes por nossa sempre lembrada mãe Isabel, intocáveis, dezenas e dezenas de números de A Estrella, que depois, morta Serafina Pontes, o passar do tempo exterminou, infelizmente[35].

A trajetória de Serafina Pontes está no “Livro d’Alma”, editado em Fortaleza, Tip. Universal, 211 páginas, prefaciado por Francisca Clotilde, em 1894, que assim se reporta à amiga, 

Minha querida Serafina
Escolheste-me para apresentar a pia batismal da imprensa o teu Livro d’Alma.
Se eu ainda encarasse a poesia pelo prisma fascinante com que ela outrora me sorria, com certeza faria uma análise, embora sucinta e imperfeita de teus versos; mas já me foram todas as minhas ilusões e caí no árido terreno do prosaísmo com o coração calcicado de desenganos e o cérebro esterilizado para as luminosas e boas inspirações, me é quase impossível corresponder condignamente à honra que me fazes.
No teu livro revelas os anseios de uma alma que busca através dos desertos da vida a primeira verdejante, que nos areais da África seduz o viajante requeimado pelo sol e pelas ardentias da terra, e que buscamos nos desertos ideais na doçura de alguma afeição correspondida.
Exaltas a sublimidade da virtude, rendes um preito eloqüente a liberdade, cantas a glória, o amor, a amizade, sabes enfim apresentar sob as mais singelas e encantadoras imagens as concepções de teu talento que voa bem alto, atraído pela luz de inspiração, fanatizado pelo encanto do bem.
Eu que compreendo teu coração, que tenho visto expandir-se a extravasar ternura, quando mais rude o sacode o embate da dor, faço votos para que o teu Livro d’Alma seja acolhido entre aplausos e benção, apreciado e festejado pelo público mais exigente.
Francisca Clotilde, 13 de maio de 1894.

Não tendo tido acesso ao Livro d’Alma, transcrevemos fragmentos de um poema do livro citado, marcando a trajetória de sua vida particular, conforme Agostinha Silva (2002: 45-6):

Foi no Rio de Janeiro
Ia o século em meio então
Era em casa de um viúvo
Creio que tabelião.

Uma donzela estrangeira
Fora ser a companheira
De três crianças gentis,
E o pai destas crianças
Dela fez uma infeliz.

Um dia a desventurosa
Sentiu que estava pejada
Sem saber o que fizesse,
Ficou tão envergonhada.
Que deixou a residência
Onde perdera a inocência
Maldizendo a sua sina
Andou por casas estranha
Até que teve uma menina.

Aí! Pobre desgraçadinha
Melhor lhe fora morrer
Para que viera ao mundo
Para tantas dores sofrer!
Logo aos três meses de idade
Sua mãe, sem piedade,
Dela separou-se... Aí!
E assim desventurada
Bem distante foi criada
Dos seus irmãos, mãe e pai.

Depois uma enfermidade
Fê-la cega coitadinha!
Oh! Quantos padecimentos
Para uma inocentinha .
Sem conhecer seus parentes
Sem vê-los queridos entes,
Que lhe serviam de pais;
Sem poder aprender nada,
Ah! Que vida malfadada
É padecer por demais!

Mais tarde recuperou
A vista mais imperfeita,
Teve uma infância bem lúgubre,
Foi uma vítima perfeita!
A menina sofredora
É desses versos autora,
Sou eu, senhores, sou eu.
Não gozei da mocidade
Nem uma só felicidade
Foi bem triste o fado meu!

Hoje, por minha desgraça,
Inda vegeto no mundo,
Sem conhecer meus parentes,
Ah! que desgosto profundo!
Meu pai adotivo é morto,
Minha mãe já sem conforto,
Geme no leito de dor.
Eu, infeliz sem recursos,
Ao triste pranto dou curso.
Meu Deus, valei-me, Senhor!

Do período do Movimento Abolicionista recortamos “Abolicionismo”

Desde que Deus concedeu-me
Pleno uso da razão
Eu amei a liberdade
De todo meu coração.
Fui sempre abolicionista
Via no escravagista
Um algoz da humanidade.
Voltei ódio ao preconceito
Que fez o homem sujeito
Vendido! Que impiedade!

Nunca pude habituar-me
Com tamanha barbaria.
Mercar-se o gênero humano,
Não ha maior tirania!
Sempre quando a Deus orava
Com fervor lhe suplicava
Que extinguisse o captiveiro,
E me sentia humilhada
Por ver tão aniquilada
Esta terra do Cruzeiro.

Meu Deus  concedei-me vida
Para ter a satisfação
De ver no Brasil extinta
Aa nódoa da escravidão.
E tu, oh! Escravocrata,
Deixa de trocar por prata
O teu inditoso irmão!

Segundo Otacílio Colares, é pequena a produção literária de Serafina Pontes em forma de soneto, um  dos poucos sonetos da autora ela dedicou   "À memória de meu pai adotivo,
Dr. Francisco Alves Pontes

Venerado ancião que nesta vida
Serviste-me de pai, tão satisfeito,
Ai de mim! Quanta falta me tens feito,
Sem teu arrimo, onde encontrar guarida?

Tua memória sempre estremecida
É por mim que conservo neste peito,
Indelével e santo amor perfeito
Filial que te votei, alma querida.

Infeliz só a vida trilha,
Embora não se afaste da verdade.
Sem ter um protetor, quem é que brilha?

Repousa em paz, meu pai, na eternidade,
Intercede ao Senhor por tua filha
Que se definha vítima da saudade.

Serafina Pontes era afilhada de Isabel Colares, mãe de Otacílio Colares, autor da coleção Lembrados e Esquecidos. Ele próprio faz a afirmativa e diz que Serafina Pontes jamais deixou de manter contatos literários e privar intimamente do convívio de famílias distinguidas e tradicionais de Fortaleza de seu tempo, bastando citar, entre suas amizades mais expressivas, os Domingues Uchoa, os Torres Portugal, a poetisa e teatróloga Francisca Clotilde, prefaciadora de seu livro e a quem dedicou inúmeros poemas.
Por último temos Ana Facó, que nasceu em Beberibe em 1855. Filha de Francisco Baltazar Ferreira Facó e Maria Adelaide de Queiróz Facó. De uma família de quinze irmãos, que tem dado à terra da luz um bom número de intelectuais. Iniciou seus estudos com aulas da professora particular Carolina Pereira Ibiapina em Cascavel, em 1869.
Em 1885 entra para a Escola Normal em Fortaleza. Foi aluna de Francisca Clotilde, conforme lista de matrícula para o ano de 1887, consultada no Arquivo Público do Ceará, em Fortaleza.
O professor José Barcelos, autoridade em português ao seu tempo, não deixava passar ocasião nenhuma para proclamar a superioridade de Ana Facó naquela matéria. Diplomou-se em 1887, aos 32 anos.
Logo após o término do curso, recebe o convite de um primo professor para ensinar no Ginásio Cearense. Mas o Ginásio foi vendido com menos de um mês de funcionamento. Sem recursos financeiros, decepcionada com esta experiência e buscando alternativas para sobreviver do magistério - “idéia constante, enérgica e pertinaz” -, no final da década de oitenta Ana Facó publicou, nos jornais cearenses, o anúncio da abertura da “Escola Facó”, localizada na então rua Formosa, hoje Barão do Rio Branco.

Só ontem me foi possível regressar a esta capital, vou, portanto, comunicar aos Srs. Pais de familia, máxima aos alunos as quais tão bondosamente aguardaram a minha vinda (pelo que lhes serei sempre agradecida) que amanhã, 1º de março, estará aberta a Escola Facó, de conformidade com os novos Regulamentos e Regimentos da instrução primária no Ceará.
Rua Formosa, No 173; 28 de Fevereiro de 1889[36].

Em 1891, é convidada para lecionar como professora adjunta da Escola Normal. Logo em seguida, era designada para o cargo de Inspetora de Ensino.
O levantamento e estudo da vida e obra de Ana Facó destaca seu nome como professora que exerceu presença atuante na história educacional de Fortaleza, notadamente nos primeiros anos do Século passado. Com efeito, mediante anos de convívio escolar, a professora Ana Facó foi reunindo textos e mais textos que compunham o cotidiano dos alunos, seguindo conselho de sua ex-mestra, Francisca Clotilde.
Uma prova de suas múltiplas facetas - de educadora e autora é sua obra dedicada ao público infantil: Comédias e Cançonetas, de 335 páginas, obra publicada somente em 1937. A reunião de escritos pedagógicos, publicados em livro após sua morte, demonstra a preocupação com a formação das crianças. A partir de suas publicações Ana Facó inscreve-se na história da literatura infantil.
Tendo como meta instruir as crianças, as pequenas peças versam sobre o universo infantil, buscando sempre contribuir para a formação. Trabalha com a diversidade da linguagem, exemplificada pelo uso de provérbios - que auxiliam na meta educacional - pequenas canções e comédias. Há críticas à menina que cultua o afrancesamento, em “Cúmulo de Galicismo”, discorre sobre a inveja, o valor da verdade, a moral e demais assuntos que envolvem a boa conduta. Como exemplo de seu afã educacional e, tendo como tema da canção a mulher, cita-se a cançoneta: “O Projeto da Equidade”,

Foi grande, foi soberba a novidade,
Que tanto me alegrou o coração;
É que o belo projeto de equidade
Já passara em terceira discussão.

Sancionado será mui brevemente
Talvez hoje, amanhã o mais tardar;
E então, nós mulheres, livremente,
Poderemos ser eleitas e votar.

Não desejo subir por via estreita
Quero, sim, merecer e ter valor;
Por vontade do povo ser eleita,
Sem pedir voto algum, seja o que for.
...
Mas não sou palmatória, ponto faço.
Querendo mais ainda ao meu país,
Pra fazê-lo, o de certo, mais feliz

Cabendo-na, portanto uma cadeira,
No Congresso ao Supremo Tribunal,
Provarei, minha pátria, à terra inteira,
Que te amo com estremo filial[37]

Suas atividades de professora tiveram destaque e foi convidada para ser diretora do primeiro Grupo Escolar de Fortaleza em 12 de junho de 1907, cargo que exerceu até aposentar-se. Li em algum canto por ai, que um determinado deputado pediu ao  presidente da província mais um Grupo Escolar, e ele respondeu: "Só se você me arrumar mais uma Ana Facó".
No poema Meus Cantos[38], uma revelação sincera do psiquismo da poetisa:

Meus cantos são tão saudosos
Como os gemidos chorosos
Da rebeca de um mendigo.
Como o sentido lamento
Na hora do passamento
De um extremoso amigo.

Meus cantos são tão sombrios
Como o espelho dos rios,
Nas horas do sol se por;
Como o rosto macerado,
Combatido pelo fado
Descorado pela dor.

São meus versos enleados
Como a virgem aos agrados
Do ente que mais amar
São sem arte e poesia
Mas talvez... talvez um dia
Melhor eu possa cantar.

Transcrevemos tambem, um soneto de Ana Facó intitulado PRECE[39]

Quero morrer, meu Deus, mas de repente,
Sem no leito sofrer agudas dores;
Esquecendo da vida os dissabores,
Dirá então minha alma – finalmente.

Eu nasci sob estrela decrescente,
De luz amortecida, sem fulgores;
E vivi enfezada como as flores
Que jamais desabrocham totalmente.

Quem nascesse e vivesse sem proveito
Do mundo, baixar logo deveria
Ao repouso final do térreo leito.

A sentença também me caberia
Se ouvisse minha prece, oh! Deus perfeito,
A teus pés prontamente eu estaria.

Em 1907 publica no jornal do Ceará, sob o pseudônimo de Nítio-Abá, segundo a própria autora significa Ninguém, o romance “Rapto Jocoso”. Ela diz ser um romance popular histórico, o palpitar do coração sertanejo, a exuberância da vida do campo, a graça de sua ignorância e a espontaneidade de sua vida sem artifícios nem convenções.
Outra obra de Ana Facó é Minha palmatória[40]de 1906 e republicada em 1938. Ao todo, são 145 páginas de linguagem simples reunindo hinos e contos para crianças. Nas pequenas narrativas, de caráter exemplar, o leitor é conduzido para enredos que visam ao ensinamento de conteúdos éticos e morais. Na Introdução, diz:

Queridos alunos, é para vocês a “Minha palmatória”.
Mas não se assustem, não escondam as mãozinhas atrás das costas, temendo a palmatoadas que ela não vem rancorosa admoestá-los, e sim, trazer conselhos amigos. Acolham-na com meiguice, é uma pobre peregrina que lhes pede agasalhos em algum modesto móvel. Vêem? É um livro pequeno como vocês, uma coleção de sonetos singelos como de vocês a linguagem. Não são contos inventados a esmo; nasceram de fatos, no momento precioso, uns para fortalecerem qualidades louváveis, outros para combaterem vícios que urgiam ser banidos e defeitosinhos que se devia transformar em virtudes.

Guilherme de Studart, afirma ter D. Francisca Clotilde prefaciado também o primeiro livro de Vasco Benício (nascido em Baturité), intitulado "Hapejos", de 1907: “Livro de  um jovem poeta a quem o futuro reserva, se com denodo apegar-se aos livros, um lugar brilhante no vasto cenário das letras pátrias" (Francisca Clotilde - Revista Fortaleza, 25 de março de 1907). Prefaciou tambem, Magnólias, de Fernando Weyne – nascido no Paraguai, radicado em Fortaleza no Ceará.
Outro poeta que desfrutou da amizade de Francisca Clotilde foi Carlyle Martins, que foi amigo de Monsenhor Joviniano Barreto, tauaense assassinado em Juazeiro do Norte. O soneto "Mártir do Dever", Carlyle Martins dedica "À Memória de Mons. Joviniano Barreto":

Sacerdote do amor, da Fé e da virtude,
Sua alma era do Bem, sublime relicário
Dirigindo os fiéis, em serena atitude,
Pregava a religião do Mártir calvário.

O destino cruel, que tanto nos ilude,
Reservou-lhe na vida o mais atroz fadário,
Atirando-o, de um modo inesperado e rude,
De encontro à hediondez de um mísero sicário.

De morte sem igual pagou triste tributo,
O pobre Monsenhor! Mas seu nome impoluto
Já cintila no azul, em riscos camafeus!

E, enquanto a terra chora, em ânsias
Ele no Paraíso, entre estrelas e rosas,
Num esplendor de luz, está junto de Deus.[41]











Os Filhos de Francisca Clotilde

No meio de meus trabalhos, quando o desanimo se apodera de mim, quando me sinto prestes a esmorecer, o amor que voto a meus filhos me conforta e me dá estimulo para prosseguir na luta.

Francisca Clotilde


Francisca Clotilde, “aluna exemplar”, “educadora por excelência”, foi também a Mãe que deu aos três filhos que sobreviveram, Antonietta Clotilde, Aristóteles Bezerra e Ângela Clotilde, os cuidados físicos, culturais e morais, tornando-os também educadores.
Antonietta Clotilde – Rosângela de Souza Ponciano[42], em E-mail enviado à pesquisadora, 2005, dando notícias sobre a produção literária de Antonietta Clotilde, afirma:

Nasceu em Fortaleza a 04 de abril de 1887. Tornou-se educadora do Externato Santa Clotilde pelas mãos de sua mãe. Foi fundadora da revista periódica “A Estrella”, no ano de 1906, na cidade de Baturité, e teve a colaboração de Carmem Taumaturgo. A partir de 1908, com a mudança da família para Aracati, a revista passa a ser editada em Aracati até o ano de 1921.
Toda sua produção literária, com raríssimas exceções, repousa sobre as páginas da Revista A Estrella. São poesias, monólogos, crônicas, e editoriais que se fizeram presentes em determinados momentos da História do Ceará e do Brasil. Mantinha um estreito relacionamento com sua mãe. Mais do que filha foi amiga e confidente. Era esta amizade tão íntima e tão profunda que os assuntos mais delicados eram confidenciados em francês, para que essa intimidade não fosse violada.
Quando “A Estrella” deixou de circular em 1921, por dificuldades financeiras (o alto custo do papel), Francisca Clotilde e Antonietta Clotilde, viram se extinguir parte de suas existências. A perda da mãe foi irreparável e, quando o Externato deixou de funcionar Antonietta passou a viver de uma pequena subvenção de lhe dava a prefeitura.

Para Lúcia Miguel Pereira “um dos veículos de emancipação que possibilitou a divulgação dos textos das mulheres, foi a imprensa, e dentro da imprensa, o periodismo feminino”. Antonieta Clotilde, ao longo de quinze anos foi redatora do mensário A Estrella.
Joaquim Pimenta, registra uma visita de Antonieta Clotilde e Carmem Thaumaturgo à redação da revista "Fortaleza" (1906-1908),

Fomos distinguidos com a gentil visita do interessante mensageiro do pensamento infantil de Baturité: A ESTRELLA, que é competentemente redatoriado pelas senhoritas Antonietta Clotilde e Carmem Thaumaturgo. Agradecemos a honrosa visita, fizemos sinceros votos para que A ESTRELLA deslise sempre sobre uma alcatifa de pétalas de rosas.[43]

A Revista, que inicialmente foi editada em manuscrito, está organizada em várias colunas. Na Capa, quase sempre um soneto de Francisca Clotilde ou um retrato, preferencialmente de crianças. Eram normalmente filhos ou filhas de colaboradores.
A Estrella era composta de várias colunas – de Gracilidades - para o ano de 1921 recortamos:

Noivaram por entre idílios e esperanças o ilustrado Dr. Waldemar Falcão e a gentilíssima senhorita Adamir Ribeiro, precioso ornamento da sociedade fortalezense; o distinto jovem José Chagas sobrinho e a meiga demoiselle Regina Chagas, residentes em Morada Nova. Que os gênios benfazejos conduzam os desposados às regiões serenas e radiosas da felicidade...

Dr. Waldemar Falcão é sobrinho de Francisca Clotilde, sendo filho de sua irmã Maria da Conceição. Trata-se do Ex-Ministro, cujo Centenário de nascimento foi solenemente comemorado pelo Instituto de Ceará, com discurso proferido por Arruda Furtado, em Sessão solene em 1995.
Em estudo sobre a revista A Estrella, Otacílio Colares (1993:69) assim se reporta:

Seria injustiça se não fizéssemos sobressair a figura por todos os títulos simpática e intelectualmente significativa de Antonieta Clotilde que, como redatora de A Estrella, muito escreveu por injunção de sua responsabilidade editorial, e mesmo por vocação e amor filial.
Como sua mãe, Antonieta era eminentemente romântica, quer quando fazia prosa, quer na poesia. Sonetista foi Antonietta Clotilde, mais ainda ao uso do alexandrino, do que é exemplo este pitoresco e nostálgico “Crepuscular”, dedicado À Adalzira Bittencourt[44]

Triste, suspira a tarde... e morre, lentamente,
Num doce e grande beijo, acariciando a flor...
E eu sinto dentro d’alma uma tristeza ingente,
Sem que a vida me embale áureo sonhar de amor!...

Longe, na igreja, o sino, compassadamente,
Vibra... é o Ângelus... Vibra... Aviva-se o fervor
Neste meu coração nostálgico e descrente
Onde se oculta e esconde a pérola da dor!

Flores morrem no campo... Esvoaçam borboletas
Pelos vergueis em fora... E, além, voando, tristonho,
Um pássaro, veloz, para seu ninho, corre...

Ocultam-se, no vale, as tímidas violetas...
E o coração me diz como se fora em sonho:
- Uma saudade vem e uma esperança morre![45]

Por ocasião do 4º aniversário de A Estrella, 1910, Francisca Clotilde faz homenagem à revista e a sua filha Antonieta Clotilde, companheira de todas as horas e baluarte forte da revista, pela qual deu o melhor de sua vida, através do soneto “Ave Stella”,

Como brilha no azul a estrela matutina
Trazendo doce luz, embelezando a terra,
Desde o verde que adorna a majestosa serra
A grama que atapeta o seio da campina.

Há quatro anos ti vi... E mesmo pequenina,
As dores que minh’alma intimamente encerra
Dissipaste a sorrir, tão meiga e peregrina,
Mensagem de paz que as sombras me descerra.

Crescente, mais cresceu também o meu afeto,
És hoje o terno enlêvo, oh! Astro predileto,
Aurora de esperança em rude itinerário;

Sendo de minha filha e seu ideal brilhante,
Com transportes de amor na frase mais vibrante
Saúdo inda mais uma vez o teu aniversário.[46]

O soneto “Amor Filial”, de autoria de Antonietta Clotilde, é dedicado “À minha adorada mamãe”,

Eu penso em ti, oh! Minha mãe querida,
Quando paira na terra a suavidade
Que tem a natureza entristecida
E toda envolta em perenal saudade.

Quero dizer-te, oh! Meu arcanjo terno,
Ó alma de minh’alma idolatrada,
Que é somente o teu amor materno
Que me faz venturosa e descuidada

E, ao contemplar a tarde tão saudosa,
Vendo fugir do sol a luz radiante
Que se oculta no ocaso e já não brilha;

Se não te vejo oh!Mãe, sou desditosa,
Embora esteja gravado o teu semblante
No meu sincero coração de filha![47]

Além de professora, periodista, poetisa, Antonieta Clotilde foi também contista. Sirva de exemplo, o “Conto Infantil”, escrito em Baturité – 1907, publicado no Almanach dos Municípios do Estado do Ceará, para o ano de 1908,

Amanhecia!...
As primeiras flores desabrochadas aos afagos das brisas balançavam-se nas hastes ainda rosejadas do fresco orvalho da madrugada, os pássaros desprendiam os caules melodiosos saudando o dia que despontava.
No jardim, Lizete colhia pressurosamente as flores mais bellas e intercalando-as num mimoso ramalhete mirava-os com expressão de afeto.
_ Como é bela a rosa, dizia, que delicioso perfume, que magnificência do colorido, que graça e louçania nas pétalas delicadas!
Disse-me a mamãe que ela simbolizava a caridade, a mais preciosa das virtudes cristãs, a mais fulgente estrella que brilha no céo.
É, com efeito, a rainha, e, nenhuma flor compele com ela nos jardins. Mas seu olhar distraiu-se e foi cair sobre o lyrio, de uma fressura ideal, lindo, gracioso como o sorriso de infância.
E já não achou a rosa tão bela. Deixou o ramalhete e foi colher a flor.
Doce imagem de inocência, como te quero!
Vou levar-te assim rorejada de perolas ao altar da Virgem. Quero pedir-lhe que conserve o meu coração limpo como as tuas pérolas.
Dentro de alguns minutos brilhavam o lyrio no ramo entrelaçado por Lizete e já não se destacava o carminado da rosa, que cedia a realeza ao lyrio na nitidez deslumbrante, virginal e pura como o coração de uma criança perfumado pelo amor de Jesus.

O amor a Pátria em Antonieta Clotilde está explícito na crônica: "Patria Brasileira".[48]

Sinto um justo orgulho de ter por Pátria o vasto território brasileiro, decantado nas liras de ouro dos poetas, exaltado em sonoros versos, em frases rendilhadas, em obras monumentais de filhos diletos que sabem apreciar as sublimes belezas que nele se encerram com uma magnificência deslumbradora.
Não há certamente maior encanto, mais doce atração para um coração patriota do que contemplar nessas noites belíssimas de estio o firmamento matizado de estrellas a espalharem dourados clarões sobre a Terra. Parece que este pálido azul representa o nosso adorado Brasil e suas luminosas constelações, os estados florescentes, destacando-se com um brilho deslumbrante o magnífico "Cruzeiro do Sul", que pode simbolizar as glórias do Ceará – a partir da Liberdade – A Terra da Luz.
Oh! Que prazer invade-me a alma vendo a bandeira de minha Pátria flutuando à áurea da glória, beijada pelo sol verdejante que lhe imprime áureos reflexos fazendo sobressair o verde expressivo que lembra a esperança e o penhor da vitória!
Vastas campinas onde se desabrocham mil flores, apenas o inverno envia ao solo ressequido as gotas do benfazejo inverno, serras imponentes que se erguem para as alturas coroadas de verduras, cascatas espumosas que refletem os raios solares em belíssimas cambiantes, regalos que serpenteiam docemente umedecendo a grama esmeraldina dos prados, aves multicores que saúdam as alvoradas festivas em gorjeios harmoniosos.
Tudo me faz amar com acrisolado afeto a minha grande Pátria, o meu adorado e estremecido Brasil. Sim, apesar de pequena, aprecio a tua grandeza, oh! Minha Terra. E curvo-me diante daqueles que  iluminam o cérebro de teus filhos com os fulgores da instrução e lhes ensinam a defender os teus brios, a exaltar teu valor e a trabalhar pelo teu engrandecimento entre as Nações.

A revista A Estrella, proporcionou as Clotildes, um intercâmbio cultural, pois muitos foram os beletristas cearenses que se iniciaram no mundo das letras através de publicações em suas páginas.
Tomemos por exemplo, Abgail Sampaio, de Paracuru. Da revista A Estrella, edição de abril de 1915, recortamos: "DEUS", dedicado "Ao Meu padrinho Pe. Antonio da Graça Martins".

Deus! Diz a terra quando o sol tristonho
Alem, no ocaso, esconde os raios seus,
Deus! Diz a lua friorenta e pálida
Quando vagueia pelo azul dos céus.

Deus! Diz a nuvem que ligeira foge
E vai perder-se na amplidão sem fim,
Deus! Diz a rosa perfumada e bel
Deus! Canta o branco e lânguido jasmim.

Deus! Geme o rio sinuoso e forte,
Que sem descanso marcha mundo Meu.
Deus! Brada o mar enfurecido e louco
Quando as ondinhas para a praia vêm.

Deus! Diz o sino da igrejinha branca,
Quando murmura triste a Ave Maria;
Deus! Diz o homem e diz o mundo inteiro
Onde há dor, onde há pranto, onde há alegria!

Segundo Antonio Sales (1938), Abgail e Maria e Sampaio, duas irmãs que já se tornaram conhecidas como possuidoras de um talento de liristas e peritas na arte do verso”.
Vejamos, então, Maria Sampaio em A Estrella, edição de janeiro de 1915, através do seu "SONETO" dedicado "À Dona Francisca Clotilde",

Temo fitar-te, doce Nazareno,
Tu que trazes na fronte imaculada
A luz divina de um luar ameno,
O alto clarão que doura a madrugada.

Qual Madalena, em lágrimas banhada,
Sigo-te os passos ao teu brando aceno,
A alma de crenças mil tendo orvalhada,
Erguendo preces e entoando um treno.

E todo o meu amor com mais veemência,
Te aclama e te bendiz, Sábio profundo,
Porque sei que Tu és do Bern a essência.

E quem, aqui do lodaçal imundo,
Pode negar a tua transcendência,
Oh! Rei dos reis, oh! Redentor do Mundo?

A Estrella acolheu também a prosa de Antonia Sampaio, irmã das duas poetisas citadas anteriormente, através da crônica intitulada "De longe", dedicado "Às maviosas poetisas Irene e Julieta Marinho", na edição de abril de 1915,

 Longe de ti! Como viver sem o bálsamo de teus afetos? Como cega tateio pela vida, que, para mim é uma noite eterna e lutuosa. Procuro embalde tua imagem, embalde meus olhos buscam os teus.
Só descortino a curva do horizonte sem fim.
Procuro o teu sorriso e turba-me a vista o bando de nuvens esgarçadas que, como bandos de gaivotas, fogem e vão perder-se além. As vezes fulguras nos meus sonhos, como unia estrella luminosa. Gozos... Mas vem após a dura realidade.
Longe de ti! Escuto em vão o Som delicioso de tuas falas e só ouço a música dorida e monótona da saudade que geme em meu coração.
Ouço nesta hora o som queixoso de uma flauta, que passa ao longe, triste como a minh’alma...
Choro e as aguas do meu pranto caem-me na face como labaredas.
E talvez nem tenhas de mim uma vaga lembrança! E talvez numa alegria louca vagues como os colibris, beijando os crisântemos e afagando as rosas!
Longe de ti! Quando findará o meu martírio?
Será eterno? Não! Sei que em breve volverás e meus olhos falarão aos teus olhos com essa linguagem mística que só aos que se amam é dado entender. E então cantaremos unidas o hino melífero da ventura.

A Estrella acolheu vários cearenses da Diáspora, entre eles, Rubens Thaumaturgo, em Xapury, no estado do Acre, que envia sua "Saudação a Estrella",

Mais uma fulguração desprende hoje a luminosa “Estrella”, do céu constelado das letras cearenses, e essa fulguração é como a centelha brilhante que representa uma conquista-vitória de imperecível valor.
Nove anos de publicação incessante perfaz hoje a gentil revista A ESTRELLA, produto de uma vontade tenaz, auxiliada pelo valor forte da inteligência robusta de sua distintíssima redatora  Antonietta Clotilde.
Salve, pois, astro de tão meigo dulçor.
Lembro-me bem... Já se passaram nove anos. Foi em 1906 em Baturité, meu berço querido. Duas crianças, pois, naquele tempo eram bem crianças, Antonietta e Carmem Thaumaturgo, idealizavam a fundação de um jornalzinho que fosse o receptáculo  de seus primeiros balbucios literários e arrojo sublime! Concretizavam em fato a idéia genial e profundo amor às letras, publicando em 28 de outubro o primeiro número d’A Estrella manuscrita – uma folha de papel almaço, caprichosamente escrita. Assim viveu algum tempo a querida “Estrella”, gentil, porém obscura, se tão insignificante era a sua tiragem – 20 – se tanto era os exemplares que circulavam. Quanta dedicação se ostentava naqueles lindos e saudosos dias de 1906, no velho, e saudoso Baturité, que vive apenas de tradições e glórias passadas!
Depois, Antonieta, estudiosa, inteligente e obstinada acompanhando sua ilustre e estimosa Mãe, transferiu-se para o Aracaty, onde continuou só a manter a Estrella, já revestida de forma graciosa, de revista brilhante, mimosa, digna de admiração, e de apreço pelo contexto de escolhidas que encerra em suas páginas onde se encontra e distingue toda a transcendente doçura da alma suavíssima dessa delicada compleição de mulher, que é Antonietta Clotilde - concretizando em si toda a máscula energia de uma heroína antiga, pela constância obstinada e admirável com que tem sabido manter sue ideal querido de poetisa e escritora, cujo nome já percorre o Brasil com a auréola do triunfo que, de há muito a acompanha.
Nove anos é uma vida... E para um jornal ou revista é um infinito que admira e pasma, especialmente aos que, como eu, sente e sabe o quanto existe de doloroso e martirizante nesta vida de sacrifícios que é a manutenção de uma publicação periódica, simplesmente literária, muito mais no Ceará, terra árida por excelência para tais empreendimentos e onde, contudo as almas vibram sempre em prol das grandes idéias, embora o desânimo tudo empolgue e esmague.
E é por isso que daqui deste Acre longínquo, que se me afigura como um prolongamento desse Ceará saudoso e nunca esquecido, venho também juntar a minha saudação ao concerto de inúmeros cumprimentos que hoje recebe a querida e admirável Estrella, a excelente revista que o espírito superior, fino e cintilante de Antonietta Clotilde - perante a quem me curvo - dirige para bem e glória das letras pátrias.
Salve radiosa “Estrella!" Que o teu fulgor seja incessante, perenal e eterno, são os meus votos, do íntimo do meu coração formulados.
Em nome do “Paladino”, teu coleginha, te venho também saudar[49].

Para dar aos de hoje mais noção do que foi a escritora cearense Francisca Clotilde e seus filhos, diremos, firmando-nos mais uma vez em Otacílio Colares (1993:80), quando se reporta a Aristóteles Bezerra:

Filho de uma legítima, talvez a mais legítima expressão da poesia feminina do Ceará, teve publicado, entre 1930 e 1940, dois livros de poemas: Transfigurações e Poemas de Fé e da Saudade, o que ao longo da vida de atividade literária, não conseguira Francisca Clotilde... Ironias do destino.
Depois de ser professor de vários estabelecimentos de ensino de Fortaleza, seria nomeado Inspetor do Ensino Secundário, no tradicional Instituto São Luiz, pelo qual sairíamos bacharéis em Ciências e Letras. Com essa função, transferiu-se da capital cearense para o Rio de Janeiro, onde faleceu.

Marcelo Costa, analisando a dramaturgia cearense diz que Aristóteles Bezerra foi bastante feliz com a apresentação de sua burleta “Cresça e Apareça”, encenada com êxito no Grêmio Dramático Familiar dia 14 de janeiro de 1921, por ocasião da comemoração do 3º aniversário desse grupo.
Wilson Bóia, em “Antonio Sales e sua Época” no episódio “Radiomania”, assim se reporta a Aristóteles:

Em 1936, Aristóteles Bezerra, filho da poetisa Francisca Clotilde, sob o pseudônimo de “Junqueiro Cearense”, enviou para esse concurso nada menos do que noventa e cinco quadras, em versos heptassílabos, abiscoitando os primeiro, terceiro e quarto lugares. Por curiosidade, vale relembrar a quadra vencedora:
Meu povo, que reboliço!
A cidade enlouqueceu!
O Philco é o culpado disso:
_ Chegou, tocou... E venceu!

Aristóteles herdou da mãe a veia poética, o gosto pelo jornalismo e o dom de educar. De sua autoria é o soneto a seguir, intitulado “Antagonismos”

Nos momentos de dor ou de alegria
Da minha vida de sentimental,
Minha dor muito pouco me crucia...
Minha alegria quase me faz mal...

E quanto mais o espírito porfia
Em se julgar feliz, sendo imortal,
Mais preso fica à forte tirania
Da fraqueza da carne sensual!

Dor e alegria: antônimos da vida!
A dor é bem para a alma arrependida,
E a alegria não passa de ilusão!

Dor e alegria: são coisas diferentes!
A alegria nos faz quase descrentes,
Enquanto a dor nos leva à perfeição! [50]

Do livro Transfigurações, recortamos “Minha Felicidade”

Minha felicidade eu sintetizo:
Nasce do amor de alguém que não me esquece,
Do amor de minha Mãe – bem tão preciso
_ Virtude inestimável que enobrece!

Tem o carinho às vezes o sorriso
Minha felicidade! A musa a expressa:
Vem do Amor que a musa preconiza
No qual julgo existir ação de prece!

Minha Mãe: vosso Amor deu-me a ventura,
De me mostrar o bem! Ele pondera
O que de horror contém toda maldade!

Enfim, o vosso amor me transfigura!
Vosso amor a minha alma retempera!
Vosso amor chega a ser felicidade! [51]

Mais adiante, no mesmo opúsculo, outro soneto dedicado “À Memória de minha Mãe”

Deixaste a vida, Mãe, trocando as desventuras
Do mundo enganador pela vida celeste,
Do Bem, do Amor, da Fé, quanto exemplo deste,
Aos que sabem querer o bem das coisas puras!

Espírito de eleita, ascendente às alturas,
A procura de Deus, a quem tanto quiseste,
Fugiste minha Mãe, a vida em que houveste
Com mártir, a quem santificam torturas.

Estás livre do mundo, onde foste heroína
Da bondade e da Fé. E a fé sempre domina
Os eleitos de Deus, que o mal nunca quebranta.

Estás longe de mim e te julgo mais perto!
Deixou-me a tua morte o coração refeito
De Amor, de Luz e Fé – Oh! Milagre de Santa[52].

É preciso que se registre o soneto de Aristóteles Bezerra intitulado e dedicado a JUVENAL GALENO[53]

Exímio trovador foste sempre inspirado!
Que harmonia há nos teus versos de amor!
Com que satisfação, com que crescente agrado,
Eu leio os teus versos, imortal trovador!

Soubeste decantar o vaqueiro e o roçado!
Exaltaste a jangada e o heróico pescador!
“Cajueiro pequenino”, há de ser apontado,
Como o trabalho teu, de mais alto valor.

As lendas e canções da terra de Iracema
Merecem de ti, ora a estrofe e ora o poema,
Chegaram a inspirar-te esplêndidas canções.

Ler teus versos - é ter-se arroubos de alegria,
É conhecer-se bem o poder da poesia
Que chega a comover os nossos corações!

Parsifal Barroso, em pronunciamento por ocasião da Solenidade comemorativa do Cinqüentenário de Fundação da Sociedade Cearense de Geografia e História (a Sessão de fundação ocorreu na casa de José Waldo Ribeiro Ramos, o principal fundador - em 25 de agosto de 1935, às 9 h, à Rua Senador Pompeu, nº 1215), assim se reporta:

Permito-me começar, portanto, a reproduzir a nominata dos sócios fundadores, que tomaram posse em 25 de agosto de 1935. Eis-los: Henriqueta Galeno, Hugo Victor Guimarães e Silva, Florival Saraine, Carlos de Oliveira Ramos, Hugo Catunda, Augusto Benevides, F. Fernando Ribeiro, José Bonifácio de Sousa, Joaquim Alves, O orador que vos tem a honra de falar, Luis Mendes, Plácido Castelo, Antonio Girão Barroso, Alba Valdez, Aurélia Montenegro Gondim, José Valdo Ribeiro Ramos, Renato Braga, Afonso Banhos, Rui Guedes, Domingos Braga Barroso, Aristóteles Bezerra, Eduardo Pereira Mota, Reinaldo Alves de Sousa, Jorge Moreira da Rocha[54],

Aos dias 05 dezembro de 1937 Aristóteles perde um filho de doze anos. Em 1938 publica Poemas de Fé e Saudade, Obra dedicada “À memória de meu filhinho José Adamôr Bezerra que era bom demais para o mal desta vida”. Do opúsculo, recortamos “Meu Filho” (p. 38):

Deus cedo te livrou das agruras da vida!
Doze anos: mal viveste, ó querido Adamôr!
Fugiste, sem querer, ao mundo enganador
E deixaste a teus pais a dor indefinida.

Doze anos: como a mim julgava sedutor
Ser-te o porvir! E, entretanto, a sorte fementida
Estava a preparar-me a cilada
Para me ser maior o acicate da dor!

Mal viveste, meu filho, Adamôr, me deixaste
Foi Deus que assim o quis. Que a vontade divina
Supere sempre o meu imperfeito querer!

Se sangrando de dor que eu bendigo o contraste
Tu, morto, estás vivo ante a minha retina.
_ Milagre de Jesus propícia ao meu sofrer![55]

Do livro Ensino e Religião, episódio XIX, (pp 27 e 28), recortamos – “Alguém que me chama – Meu Filho”,

Todo o assunto que eu me consagro a escrever com algum colorido, com menos trivialidade, com menos lugares comuns, e com menos incorreção de linguagem, é o que exatamente diz bem da invalia dos meus processos artísticos e da insignificância do meu intelecto.
No intuito de tornar incontestável o meu asserto, eu agrupo palavras para consegui-la. Uma das reflexões que mais me falam a alma é a objetividade em derredor da vida de quem me deu a vida, de quem, elucidação pleonástica eu chamo – MINHA MÃE.
Merecia a classificação de imodéstia o elogio que faço satisfeito na impressão de afeto a quem da equivalência às qualidades de espírito de alguém que me chama – “Meu filho!”.
Mãe! Rejubila-se-me o coração a só idéia de grandeza sintetizada nas três letras desse nome.
É a minha Mãe, que tanto se desvelou quanto a saúde do meu físico, sou devedor de um bem excessivamente maior: - o da formação do meu espírito, ao influxo das incomparáveis doutrinas na igreja de Jesus Cristo.
Daí ser-me uma das reflexões que mais me fala a alma a objetividade em derredor da vida de quem me deu a vida, de quem, elucidação pleonástica, eu chamo – MINHA MÃE.
    Em 1938, por ocasião do falecimento do Barão de Studart, Aristóteles dedicou o soneto a seguir: "À memória do Barão de Studart"

Grande batalhador de causas nobres
E do bem resoluto paladino,
Historiador, talento peregrino,
Este nosso Ceará tu nos descobres.

Sublimando a missão de vicentino
Muito fizeste em vida pelos pobres
Morreste. Ouço o planger de muitos dobres
E morrer é de todos o destino.

Barão de Studart, vulto inconfundível
Tu foste um bom, discípulo perfeito
De Vicente de Paulo, o grande Santo.

A memória terás imperecível
De gratidão era eterno o preito
Dos teus pobres, a quem amar-te tanto[56].

Da produção literária de Aristóteles Bezerra não conseguimos, até o momento, localizar nenhum exemplar de “Princípios da Educação Moral e Cívica” publicado em 1940. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 24 de dezembro de 1946.
Sobre Ângela Clotilde – a filha caçula de Francisca Clotilde recorremos num primeiro momento a sua neta Rosângela Ponciano, que gentilmente nos ofereceu os dados que se seguem:

Nasceu em Redenção aos 19 de dezembro de 1897. Fez os primeiros estudos no Externato da família tendo como professoras a mãe e a irmã. Estudou também no Colégio Imaculada Conceição. Iniciou o magistério aos 14 anos de idade, lecionando juntamente com sua família no referido Externato, onde residiam. Esta Instituição Escolar foi pioneira no movimento das artes cênicas do Aracati. Os dramas, escritos por Francisca Clotilde, eram encenados por seus alunos no próprio Colégio, no Círculo Católico ou ainda no Teatro Santo Antônio.
Dona Angelita, como todos a chamavam, casou-se em 1922 com o Sr. Raimundo Pagels de Castro, tendo com este as filhas Angeluce e Angelize (Bilila). No dia 11 de dezembro de 1927, vítima de acidente automobilístico próximo à localidade de Aquiraz, falece o Sr. Raimundo Pagels, deixando-a com as filhas ainda pequeninas.
Casou-se pela segunda vez, no ano de 1929, com o Sr. Antônio Bernardo de Souza – funcionário da antiga Mesa de Renda Federal. Desta união nasceram os filhos: Almério Flávio e Francisca Clotilde Neta (falecidos ainda criança), Antônio Fernando, Alice Madalena, Almeri Mirtes, Maria Madalena, Aldeize Mary e Régis Bernardo de Souza. O Sr. Antônio Bernardo de Souza faleceu no dia 12 de junho de 1946, vítima de derrame cerebral, diabetes e complicações cardíacas.
Ângela Clotilde foi nomeada professora estadual em 08 de fevereiro de 1947, lecionando na Colônia de Pescadores de Aracati. Durante toda sua vida doou-se com extrema dedicação ao processo de formação cultural e intelectual do povo aracatiense. Sua metodologia educacional manteve-se baseada na ética e na coerência, dando oportunidade aos seus alunos de tornarem-se instrumentos atuantes no processo de transformação e evolução do nosso país.
A professora Angelita faleceu de infarto fulminante, em Fortaleza, no dia 02 de abril de 1974, após saber do seu Aracati triste, sofrido e invadido pela fúria do Jaguaribe.

Não constava que Angelita houvesse tido inclinações poéticas, ou mais precisamente, que as tenha publicado. Mas desde bebê foi uma das musas inspiradoras de Francisca Clotilde, como veremos em “A Minha Filha” (1899),

Quando me sinto exaurida
Deste lutar incessante
E busco desfalecida
Alívio por um instante;

Achego-me ao teu bercinho,
Onde repousas de manso,
E ali desfruto carinho,
Ali encontro o descanso!

Nas trevas do meu Calvário,
O teu olhar inocente
Me guia no itinerário
Como uma estrela fulgente.

Bendigo o Deus adorável
Cuja bondade infinita
Deu-me a delícia inefável
De teu sorriso – Angelita!

Procurando como procuramos, rastreando os passos das Clotildes, fomos agraciados com um poema de Ângela Clotilde. Um que fosse já nos faria feliz. E aqui está: “Afetos”, publicado na revista “A Estrella”, por ocasião do aniversário da revista:

Ah! Quem me dera uma flor
Mimosa, fresca e gentil
Que trescalasse a dor
De um coração infantil.

Ah! Quem me dera a harmonia
Da prazenteira avesinha
Que canta com alegria
Na verdejante raminha!

Se possuísse a expressão
Da brisa cariciosa
Saudara com efusão
A data de ouro e rosa.

Que a fulgores eu descubro
No meu lindo calendário
Da Estrella o aniversário,
A 28 de outubro[57],

Estivemos pessoalmente na residência de uma filha de Ângela Clotilde – março de 2006, Angelize de Castro Bezerra, intimamente conhecida como dona Bilila. Seu esposo, Antero Bezerra, intimamente conhecido como Tutuca, nos recebeu cordialmente. O casal tem cinco filhos, Antonio de Pádua, Francisco de Assis Bezerra, Raimundo Ângelo de Castro Bezerra, Glacyra Lúcia Bezerra Joca, Glacy Maria Bezerra do Carmo, casada com Francisco do Carmo Neto. A  família possui o livro “Tintino: o espetáculo continua”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, em 1976, também a revista A Estrella, out/nov/dez. de 1921.
Para Tutuca, Francisca Clotilde era uma mulher destemida, escrevia sem se importar com o que poderia vir por parte dos poderosos, era também possuidora de muitas amizades, pois quando escreveu o drama “Pérola do Bosque” o ator francês “Jone Brice” veio da França para os ensaios e as primeiras apresentações. De lembrança física de dona Francisca Clotilde a família guarda duas imagens de Santas: Nossa Senhora das Dores e Santa Terezinha, das quais Francisca Clotilde era devota.
Da bisneta de Francisca Clotilde – Rosângela de Souza Ponciano, a quem seremos eternamente grata pelo incentivo recebido ao longo da pesquisa, recebemos e aqui transcrevemos mais dados inéditos sobre Francisca Clotilde,

Participava, ainda, do carnaval aracatiense coordenando o Bloco das Lanceiras, unindo inúmeros jovens da cidade ao grupo de alunos do Externato Santa Clotilde, que recebia a todos, sem distinção.
Devota de Santa Terezinha, freqüentemente fazia suas novenas, no que era sempre atendida recebendo, como sinal, uma rosa.
Em certa ocasião, após concluir mais um ciclo de novena e não tendo ainda obtido o “sinal” como resposta, recebe a visita de um estranho portando uma encomenda endereçada à sua pessoa. Havia no pacote dois exemplares de livros, assim intitulados: "O Último Adeus" e "A Recompensa do Céu". Dias depois, veio a falecer em sua residência.
Eu não ousaria dizer que ela morreu em 08 de dezembro de 1935, mas que completou mais um ciclo na trajetória que lhe compete na terra, em sua caminhada evolutiva. Quem pensa que sua história termina por aí, engana-se. A partir das décadas de 60 e 70, Francisca Clotilde inova mais uma vez ao escrever - na espiritualidade - contos e poemas diversos, através das Mãos do Médium Chico Xavier. Neste período escreve dois livros infantis: Tintino e Natal de Sabina.

















Considerações Finais

Em qualquer processo de investigação, chega uma hora em que é preciso dá-lo por encerrado. Se em alguns casos esse ponto final pode representar um alívio, em outros o desejo de querer continuar parece falar mais forte, e ao terminar, o pesquisador fica a sonhar com novas possibilidades.
Sofia Lerche Vieira

Rastreando os caminhos percorridos por Francisca Clotilde, de 1862 a 1935 descobrimos que diferentemente da grande maioria das mulheres do seu tempo ela foi uma figura histórica multifacetária.
Na professora, o exemplo de capacidade intelectual, quando em 1884, com apenas vinte e dois anos de idade se habilita a ser professora da Escola Normal Pedro II, em Fortaleza, considerada revolucionária, discordando inclusive de “maus tratos” como método disciplinar. Depois de onze anos na Escola Normal, foi demitida, funda o seu próprio Externato, pioneira em educandários para crianças de ambos os sexos em Fortaleza, no Estado do Ceará; depois o transfere para Baturité e de lá para Aracati até o ano de 1935. Portanto, foram 53 anos dedicados à Educação cearense.
No Movimento Abolicionista, a expressão do amor à liberdade em verso e prosa e como Membro atuante da Sociedade das Senhoras Libertadoras, ao lado de Maria Tomásia, Elvira Pinho, Emília de Freitas, Serafina Pontes e outras senhoras, deu sua parcela de trabalho e ardor. Mais tarde, saudosamente se expressa, “todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra”.
Na poetisa, as mais diversas expressões de amor: à mãe, à irmã, à filha, à prima, à amiga, ao amigo, aos flagelados, aos mártires, à criança, à natureza, à liberdade, à saudade, ao Ceará. Embora não tenha dado a lume um volume sequer de suas poesias, é uma das maiores poetisas do Ceará em seu tempo, idéia comum a todos os historiadores que a abordam, desde Otacílio Colares, Stela Araújo, Guilherme Studart, Dolor Barreira, Abelardo Montenegro dentre outros.
Na jornalista, além de crônicas, vários artigos politizados conclamando a participação popular e defendendo a participação da mulher na política. Publicou uma brochura, intitulada Pelo Ceará, contendo os seguintes artigos: Vitória (p. 1); A Mulher na Política (2-5); O Direito do Povo (6-8); Apelo Patriótico (9-10); Carta Aberta (11-14); 21 de Janeiro (17-17); Como Eles Vencem (18-20); A verdade (21-23); Cores Vitoriosas (24-26); Em prol do Ceará (27-29); O Eleito do Povo (30-32); Candidato Conciliador (33-35); O candidato do Povo (36-39); Atitude do Povo (40-41); Bem Vindo! (42-43); Pela Farsa e Pela Força (44-47); Manejos Políticos (48-50); Pelo Ceará (51-53); Rabelismo Rubro (54-56); Apoteose de um Nome (60-62). Ao todo a brochura é composta de 70 páginas. O exemplar que tivemos acesso, no Instituto do Ceará, infelizmente faltam o restante das páginas (de 63 a 70).
Enquanto teatróloga escreveu várias peças, compostas de Monólogo, Diálogo, Dramas em 1, 2 e 3 atos, podem ser encontradas no Almanack do Ceará; no Almanach dos Municípios do Ceará e na Revista A Estrella. Mais importante, eram apresentadas por alunos e alunas, no Externato, no Teatro Santo Antonio e em outras cidades, como Fortaleza, por exemplo.
Através do Conto escreveu pequenas histórias, cada uma trazendo uma “Lição de Vida”, uma forma de educar ou de preparar educadores. Desses contos esparsos, temos como exemplo, a revista A Quinzena (1887-1888): Brincar com cinzas; A Enjeitada; Meu Amor. O Almanack do Ceará (1897) Noivo Pródigo; na revista O Lyrio, de Recife – Conto Infantil. A revista A Estrella encontra-se recheada de contos de Francisca. Clotilde e de sua filha Antonieta Clotilde.
O único romance que escreveu “A Divorciada” apresenta a mensagem de observação dos hábitos sociais da época, a família patriarcal, as epidemias, o êxodo rural, os paroaras, a bondade e a maldade dos personagens, e por fim aborda a complexa problemática do divórcio, na tão discutida questão do casamento que não deu certo. Enquanto ficcionista foi pioneira no tema na literatura cearense e possivelmente na literatura brasileira.
Francisca Clotilde é reverenciada na História do Teatro cearense, com suas peças: A Solteirona; A Amparativista; Santa Clotilde; O Bailado das Artes; O Sol e A Lua, Martyrio e Glória, entre outras. Através da peça, “O Bailado das Artes”, Francisca Clotilde classifica as principais artes como sendo: a Poesia, a Música, a Pintura, a Escultura, a Dança, a Equitação, a Agricultura e a Imprensa.
Na mãe, quando se deparava com aflições e dificuldades era o amor aos filhos que a confortava como expressa na frase: “No meio de meus trabalhos, quando o desanimo se apodera de mim, quando me sinto prestes a esmorecer, o amor que voto a meus filhos me conforta e me dá estimulo para prosseguir na lucta”. Os três filhos que chegaram à idade adulta também se tornaram educadores, Antonieta Clotilde, além de professora em Aracati, era também poetisa, contista, jornalista e periodista.  Aristóteles Bezerra, professor em vários educandários em Fortaleza, poeta e prosador, Supervisor Regional de Ensino - função essa que proporcionou a Aristóteles a oportunidade de ficar frente a frente com Lampião na cidade de Limoeiro do Norte, quando essa cidade foi invadida pelo bando de Lampião. Posteriormente, chegou a ocupar cargo técnico no Ministério de Educação no Rio de Janeiro. Angelita, professora em Aracati, primeiro no Externato da família, depois na Colônia de Pescadores. Responsável maior pela eternização de Francisca Clotilde através de vários netos e netas que lhes deu.
Enfim, quando se lançar o olhar sobre a História da Educação e da Literatura no Ceará, e no Brasil das últimas décadas do Século XIX e as primeiras décadas do Século XX, teremos sempre que recorrer a Francisca Clotilde pelo que ela representa de esforço e luta, paciência e tenacidade, indiscutivelmente, um heróico e formidável esforço, sobretudo se pensarmos nas condições ambientes em que ela a realizou.
Sendo assim, tal qual fizemos no encerramento da Monografia - alicerce deste trabalho - prestamos homenagem à Francisca Clotilde através do soneto da autoria de Nazareth Serra  Toque de Silêncio[58],

Calou-se a grande musa e, de repente,
Surge no céu a estrela cintilante!
Ela viveu a vida alegremente,
Tendo nos versos seu prazer constante!

Sua existência foi, constantemente,
Um palmilhar de glória deslumbrante.
E, tendo n’alma inspiração ardente,
Fez, desse modo, o seu porvir brilhante.

E o silêncio agora bem profundo,
Longe bem longe, assim do nosso mundo,
Mas a lembrança o tempo não consome!

Venho trazer, aqui, o meu respeito,
Dizer que a mim, também, cabe o direito,
De propalar a glória do seu nome

Neste sentido, sugerimos ao Presidente da Câmara Municipal de Tauá (31.01.2007) – Agenor Cavalcante Mota, esforços junto aos demais vereadores, para que fosse concedido Nome de Logradouro a FRANCISCA CLOTILDE. No que fomos prontamente atendidos, pois na Sessão do dia 05 de março do ano corrente – em Homenagem à Mulher, o Projeto de Lei Municipal Nº 07/2007 foi apresentado à Câmara, onde se encontravam presentes nove dos dez vereadores que compõem o quadro do Legislativo Tauaense, a Prefeita Municipal: Patrícia Aguiar, pioneira do Sexo feminino a administrar o Município de Tauá, além de um grupo de 120 pessoas. Na ocasião tivemos a oportunidade de ocupar a Tribuna e justificar o pedido. Na Sessão do dia 12 de março o Projeto foi Aprovado por Unanimidade. E posteriormente, Sancionado pela Lei Municipal Nº 1.456.
















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AMARAL. G

























Vejamos, pois, o acróstico criado e recitado pela poeta Francisca Clotilde, naquela ocasião jubilosa, o qual ela dedica "aos libertadores":






Iconografia












Entre as manifestações importantes ou significativas da memória coletiva, encontra-se o aparecimento, no século XIX e início do século XX, dois fenômenos:

O primeiro, em seguida a Primeira Guerra Mundial, é a construção de monumentos aos mortos.

O segundo é a fotografia, que revoluciona a memória: multiplica-a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingidas, permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica.
    (Jaques Le Goff)




  O CEARÁ É LIVRE

O fim é este! Ousados Paladinos

Chegastes ao thabor cheios de glória
E a fronte ides alçar ao som dos hinos
Aos cânticos festivos da vitória
Ressoe o brado augusto da amplidão:
Aqui hoje se estreita um povo irmão!

É livre o Ceará, reina a igualdade:

Livres somos! Triunfa a nova idéia!
Imensa se levanta a liberdade
Vencendo aos belos campos na epopéia
Rompe as brumas com a loura alvorada
E a aurora de Deus surge abrasada.




MOTA. Anamélia C. Francisca Clotilde: Uma Pioneira da Educação e da Literatura no Ceará. Caninde, 1997. p. 30-38.




MOTA. Anamélia C. Francisca Clotilde: Uma Pioneira da Educação e da Literatura no Ceará. Caninde, 1997.






Vejamos, pois, o acróstico criado e recitado pela poeta Francisca Clotilde, naquela ocasião jubilosa, o qual ela dedica "aos libertadores":



[1]              A galinha, costume de Guiné, em Angola. CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2004:516.
[2]              O porco, costume na alimentação da Europa. Idem.
[3]              Ver Teófilo, Rodolfo, O Paroara, 1899.
[4]              Ver Artigo completo no Jornal "Correio do Ceará, Fortaleza, 17 de setembro de 1977.
[5]              Revista da Academia Cearense de Letras. Fortaleza, 1902: 181.  
[6]         Cf. A Semana, 08/04/1916 In: BARREIRA, Dolor. História do Ceará: História da Literatura Cearense, 1950, p. 391.
[7]              COLARES, Otacílio. Lembrados e Esquecidos. Fortaleza: IUFC, Vol. 3, 1977: 69.
[8]              OLIVEIRA, Caterina S. Fortaleza: UFC, 2000.112-120.
[9]              Cf. Nelly Novaes Coelho, no Dicionário crítico de escritoras brasileiras.



[10]             MORAES, Vera L. A. Entre Narciso e Eros: A construção do discurso amoroso em José de Alencar. Fortaleza: UFC, 2005 p. 86.
[11]             F. CLOTILDE. Ceará Intelectual. Fortaleza, 1910.

[12]             ALENCAR. Ruth. Mulheres do Brasil, Vol 1 1971 p.171-227.
[13]             CORREIA. Maria Parente. Mulheres do Brasil. Vol. 2 1971 p. 465-480.
[14]             F. CLOTILDE. Pelo Ceará, Aracati (1912) pp. 6-8. ARAÚJO, Maria Stela B. In: Mulheres do Brasil (Pensamento e Ação) Vol. 1. Fortaleza: Galeno, 1971, pp. 242-243.


[15]             PIMENTA, Joaquim. Retalhos do Passado. Rio de Janeiro, 1949 p. 92.
[16]             F. CLOTILDE. Pelo Ceará, 1912 p.9-10. ARAÚJO. Maria Stela B. Mulheres do Brasil. Vol. 01, Fortaleza, Editora Henriqueta Galeno 1971, pp. 240-242. Pelo Ceará, pp. 2-5.
[17]             PIMENTA, Joaquim. Retalhos do Passado. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1949: 145-145.
[18]             Idem.
[19]             F. Clotilde. Pelo Ceará, 1912. p 1-2.
[20]             F. Clotilde. Ceará Intelectual. 1912. Ver, também, SAMPAIO. Filgueira. Noções de História do Ceará. Recife, 1951, pp. 109-10.

[21]             Cf. Almanack do Ceará, Fortaleza, 1908:167-8.
[22]             F. Clotilde. Almanack do Ceará, 1908 p. 167-169.

[23]             F. Clotilde. A Estrella, Aracati, ed. de out/nov/dez de 1921.
[24]             Palestra proferida pelo historiador Antero Pereira na programação de encerramento da II edição do Evento Faces das Artes. Aracati, 25 de agosto de 2004, convidado pelo Grupo Lua Cheia na pessoa do seu representante, Marciano Ponciano.
[25]             A Estrela, ed. de julho de 1915 p. 7 e 8.
[26]             Cf. Revista A Estrella, Aracati, out/nov/dez/1921, p. 27.
[27]             SALES, Antonio In: GIRÃO, Raimundo e MARTINS Fº, Antonio (org) O Ceará. Fortaleza, 1945, p. 185.
[28]          Mais sobre Emíia de Freitas ver Mulheres do Brasil. Fortaleza: Galeno, 1986 p. 281-318. Também, Lembrados e Esquecidos de Otacílio Colares, vol. 3. 1977 p. 11-52.
[29]             BATISTA, Ana Nogueira. Versos. Rio de Janeiro: Edigraf, 1964. p.12.
[30]             Cf. A Quinzena, Fortaleza, edição de 16 de abril de 1888.
[31]             Pseudônimo usado por Francisca Clotilde. "Prefiro Jane Davy à Guiomar Torrezão",  Antonio Sales In: Barbosa Lima – Wilson Bóia. Antonio Sales e sua Época. Fortaleza: Editora do Instituto do Ceará, 1984 p. 414.

[32]             BARROSO. Olga M. Mulheres do Brasil, Vol. 2, 1971 p. 481-498.
[33]             O Instituto do Ceará foi fundado em 1887. Desde o ano de sua Fundação trimestralmente edita a Revista do Instituto do Ceará. Ora gravada em  CD's.
[34]             Cf. Mulheres do Brasil. Fortaleza: Galeno, 1971 p. 485-502. 
[35]        COLARES. Otacílio. Lembrados e Esquecidos. Fortaleza: 1993 p. 67.

[36]          Cf. O Libertador, Fortaleza, 01/03/1889, p. 03
[37]             FACÓ, Ana. Comédias e cancionetas. Fortaleza: Livraria Humberto, 1937. p. 21-22. Obra póstuma.
[38]             Cf. AMARAL. Geraldina. Mulheres do Brasil. Fortaleza: Galeno, 1971 p. 93.
[39]             Ana Facó In: AMARAL, Geraldina. Mulheres do Brasil, 1971 p. 84.
[40]             FACÓ, Ana. Minha Palmatória: contos aos meus alunos. Fortaleza: Assis Bezerra, 1938. Obra Póstuma.
[41]             Martins, Carlyle. In: Feitosa, Neri. Monsenhor Joviniano Barreto (1889-1950). Cadernos do Cariri. Série Biografia.
[42]             Bisneta de Francisca Clotilde. Professora, poetisa, cantora e fotógrafa. Presidente da Associação Cultural Solar das Clotildes em Aracati.
[43]             Joaquim Pimenta, Revista FORTALEZA, 1907.


[44]             Adalzira Bittencourt – menina-moça paulista, correspondente e colaboradora da revista “A Estrella”; depois veio a ser a primeira Mulher a ocupar a Academia Paulista de Letras.
[45]             COLARES, Otacílio. Lembrados e Esquecidos Vol. 6, 1993 p. 69. Ver. A Estrela, Março de 1915.
[46]             Cf. A Estrella,Aracati, março de 1912 In: ARAÚJO, Maria S. B. Apud Mulheres do Brasil, Fortaleza: Galeno, 1952:246.
[47]             Cedido por Rosângela de Souza Ponciano. Sobrinha de Antonietta Clotilde.
[48]             A. Clotilde. Ceará Intelectual. Fortaleza, 1910. Ceará Intelectual teve como redator o Professor Joaquim da Costa Nogueira, da Escola de Humanidades.
[49]             Cf. A Estrella, Aracati, edição de novembro de 1915.

[50]             Cf.Hugo Victor. Sonetos Cearenses, 1997, p. 27. (1ª ed. 1938).
[51]             Bezerra, Aristóteles. Transfigurações, 1937 p. 25. A Obra é dedicada “À memória de minha querida mamãe, pioneira e precursora da Educação no Ceará”.
[52]             Op. Cit. p. 55.
[53]             Op. Cit. p. 67.
[54]             Revista da Sociedade Cearense de Geografia e História. Vil. XI. p. 267-8.
[55]             BEZERRA, Aristóteles. Poemas de Fé e Saudade. Fortaleza, 19
[56]          BEZERRA, Aristóteles. Revista do Instituto de Ceará, TE, 1938: 69.

[57]             Cf. A Estrella, outubro de 1908.
[58]             Maria de Nazareth Freitas Serra nasceu em Tauá - Ceará, filha de Deocleciano Cavalcante Freitas e da professora Rocilda Franca Freitas. Foi aluna de Maria de Lourdes Ramos Mota.  Pertence a Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno tendo como Patrona a maranhense Leonete Oliveira (Mulheres do Brasil. Fortaleza: Galeno, 1971 p. 667-686). Dia 31.01.2007 apresentamos ao Presidente da Academia Tauaense de Letras, Indicação do Nome da poetisa Nazareth Serra para figurar e fulgurar na Ala dos Patronos daquela Casa. 

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